O triste fim de um belo começo

Uma das primeiras atividades realizadas pelo ser humano em sua enorme escala evolutiva foi a arte de costurar. Mesmo antes de dominar o fogo, os primeiros hominídeos já tinham a necessidade de utilizar algo que os esquentassem dos rigorosos invernos que enfrentavam. Daí o desenvolvimento da técnica, embora de maneira muito rústica, principalmente pelo sexo feminino, já que ao homem cabia quase que, exclusivamente, o papel de caçador e provedor de alimentos.

Inicialmente, as roupas eram fabricadas com peles de animais que eles próprios caçavam. Interessante perceber que o homem pré-histórico desperdiçava muito pouco de sua caça, onde se comia a carne, dependendo do tamanho dos dentes fazia-se alguns utensílios, com os ossos faziam armas e com a pele fabricavam as roupas.

Ao passar dos anos, as roupas deixaram de serem usadas somente pela questão da sobrevivência, passando a exercer um papel social e cultural dentro de inúmeras sociedades. Algumas culturas, por exemplo, se distinguem de outros povos pelo uso de sua indumentária. Até mesmo dentro de uma mesma sociedade, alguns grupos específicos se identificam com as roupas que usam em comum, como os punks e os hippies, por exemplo.

Vale lembrar ainda que houve uma época que determinadas roupas e cores de tecidos indicavam a posição social do indivíduo que a estava usando.

Até praticamente meados do século XX, era comum a compra de tecidos em estabelecimentos comerciais, que eram levados às costureiras ou alfaiates para estes fabricarem roupas específicas para a maioria da população. Normal também eram os cursos de costura oferecidos às mulheres para que estas costurassem em sua própria casa roupas para o provimento de sua família, ou ainda fazer pequenos remendos.

Diante disso, vários eram os estabelecimentos em nossa cidade que se dedicava na venda dos mais variados tipos de tecidos para a população em geral, além de todos os armarinhos necessários para a costura.

Porém, com o passar do tempo, com o grande crescimento da industrialização e as várias mudanças que ocorreram no processo de fabricação, as costureiras e os alfaiates começaram a perder espaço para as grandes produções em série, que são muito mais rápidas e baratas. A máquina faz num espaço de tempo muito menor uma quantidade muito maior do que uma costureira sozinha realiza.

Diante desse fato, muitas das lojas que vendiam tecidos para a população ou mudaram de ramo ou deixaram de existir.

E por falar em tecido, tivemos aqui na cidade uma grande loja que se dedicava à venda de tecidos, que no mesmo dia da sua festa de inauguração se deu um grande incidente.

A Graciosa

Inaugurada em 27 de agosto de 1967, Catanduva contava com mais um digno estabelecimento comercial. A tradicional loja de tecidos A Graciosa, que era de propriedade do Sr. Miguel Simão Haddad, funcionava na rua Brasil nº 692, em um belíssimo prédio próprio, construído especialmente para a instalação do estabelecimento, dotado de amplo salão, com inúmeras prateleiras especiais, com suas várias seções bem dispostas, que permitia um atendimento mais eficiente e, ao mesmo tempo, colocava o público mais à vontade.

Miguel Simão Haddad era considerado por quem o conhecia como “homem dinâmico e progressista”, que na época da inauguração da loja já integrava o comércio catanduvense há 15 anos. Comerciante experiente, possuidor de várias ideias, sempre visou dar ao seu grande número de clientes um tratamento afetivo, introduzindo em nosso comércio os métodos dos maiores centros comerciais do país.

A loja possuía uma grande variedade de tecidos, vindos das mais altas fábricas nacionais, incluindo as últimas novidades do mercado, o que dava ao mundo feminino uma grande vantagem para suas compras, não necessitando a busca desses produtos em outras cidades.

Além de atender todo o público no varejo, a loja ainda contava com um sistema de atacado.

O incêndio

Porém, em meio ao grande espírito feliz de sua inauguração, eis que a noite algo desastroso aconteceu com a loja A Graciosa.

Bem na noite de sua inauguração, um violento incêndio destruiu praticamente toda a loja, pois o fogo se iniciou no pavimento superior, onde havia grande quantidade de fardos de tecidos. Na seção de vendas da loja, o fogo demorou alguns minutos para chegar, e populares, em um movimento digno de louvor, retiraram grande parte das mercadorias existentes nas prateleiras. Os prejuízos com o acidente foram calculados em perto de um milhão de cruzeiros novos.

Cerca de uma hora após o início do incêndio, chegou o carro do Corpo de Bombeiros de São José do Rio Preto e minutos depois chegava também de Araraquara, embora pouco puderam fazer, uma vez que as chamas já tinham destruído totalmente as instalações e havia ruído o bonito teto do prédio.

Durante o tempo de reforma do prédio, A Graciosa se fixou nas instalações onde funcionava a Loja Brasileira, quase em frente ao seu estabelecimento onde ocorrera o incidente.

Fonte de Pesquisa:

 - Acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino.

 

Foto: Com a presença de muitos convidados, Sr. Miguel Simão Haddad rompendo a fita inaugural da loja A Graciosa, em 27 de agosto de 1967.

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.