O tempo e a memória

“Um quadro só vive para quem o olha.”

Pablo Picasso

Pintor espanhol, escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo que passou a maior parte da vida na França (1881-1973)

No dia 18 de maio, comemorou-se o Dia Internacional dos Museus, uma iniciativa do Conselho Internacional de Museus (ICOM). O objetivo da celebração, comemorada desde 1977, é conscientizar o público em geral sobre o papel dos museus no desenvolvimento da sociedade.

A palavra museu vem da Grécia Antiga, Mouseion, o templo das nove musas. Além de estarem ligadas a diversos ramos das artes e das ciências, as musas eram filhas de Zeus e Mnemosine, a deusa da memória, e seu templo era um local dedicado à contemplação e ao estudo científico literário e artístico.

Há um ditado popular, muito usado, que diz “quem gosta de coisa velha é museu”, o que convenhamos não deixa de ser uma grande verdade. A questão é o olhar sobre as coisas velhas. Os museus – de acordo com suas especialidades – guardam a memória de tantas pessoas: são objetos pessoais, vestimentas, brinquedos, obras de arte, enfim, registros de tantas lembranças que contam a vida de todas as gentes.

Não importa a temática do museu, ali está registrada a história que guarda a nossa identidade, o nosso passado e nos remete a reflexões atuais sobre o ontem como também sobre o amanhã. Só planeja o futuro quem conhece o passado e todas suas experiências, boas ou más, mas elas precisam estar expostas em algum lugar. Esse local é o museu.

Só temos consciência do que foi o holocausto pelo registro da história: campos de concentração que hoje são museus silenciosos de comoção e indignação. E o que dizer dos museus de arte que nos emocionam com seus Da Vinci, Rembrandt, Van Gogh, Portinari, Dali, Tarsila, Rodin, Claudel e tantos outras centenas de imortais?

São essas memórias que nos inspiram!

Há quem não goste de museus. Respeitamos.

Certa vez, estávamos ansiosos para entrar no Museu du Louvre, em Paris, e um grupo de pessoas que estavam conosco foram categóricos: já fizemos umas fotos em frente ao Museu, agora vamos às compras. Nós entramos, nos emocionamos, nos encantamos, choramos e voltamos para casa com a alma enriquecida, tocada, revigorada.

Não para viver de passado, mas projetando o futuro. Somente nós entramos no grandioso museu e isso se deu conosco em diversas outras oportunidades. Algumas pessoas dizem: “não tenho paciência para museu...”. Nós respondemos: “paciência...”.

Conservar os museus é manter a vida! Não é necessário prender-se ao passado, mas sim dar vida a cada obra e cada objeto. Faze-los reviver! Como afirmou Picasso: “um quadro só vive para quem o olha”, e quem olha também vive!

Em nossa cidade e na região temos museus históricos, temáticos, no entanto, sem financiamento, visitas, apoio, eles guardam apenas o pó da história. Quem não observa, reflete e aprende com cada peça de museu, não cria identificação com a própria vida, o que justifica esse ocaso, esse vazio, essa superficialidade das últimas gerações, movidas apenas pelo consumismo. Pena. E o pesar é maior quando não vemos interesse dos pais em mostrarem aos seus filhos o esplendor da vida que a história registrou e conservou para que tenhamos mais riqueza de espírito, um manancial cultural, humano e espiritual.

Visite um museu. Apoie. Divulgue. Os museus guardam o que fomos, o que somos e o que seremos.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.