O teatro amarelo

“Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar.”

Vincent Van Gogh 

 Pintor holandês (1853 – 1890).

A Campanha Setembro Amarelo intensifica a necessidade de valorizar a vida, numa batalha de conscientização contra o suicídio. Consciência urgente, considerando que na América Latina, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, teve aumento de casos entre jovens, enquanto no mundo todo os números caíram.

Não nos cabe, em hipótese alguma, questionar a motivação de tão triste ato por parte de quem quer que seja, no entanto, em contato com jovens há mais de 30 anos, podemos identificar aqui e lá, comportamentos e situações que podem ter levado a esse crescimento de suicídios.

Buscando respostas com os especialistas, vamos encontrar muitas explicações que se casam com a experiência e vivência da Cia. da Casa Amarela, seja ministrando aulas para jovens ou produzindo espetáculos para e com eles.

Não resta dúvida que o mundo acelerado de hoje, repleto de informações rápidas e o volume enorme de interações digitais ao mesmo tempo, todas intensas, em poucos minutos, desenvolve a ansiedade; enquanto, por outro lado, falta de referências culturais, humanas e os constantes discursos e postagens de violência, ódio, falta de esperança e conflitos de todos os tipos, amplificam, potencializam esse estado de falta de controle. O mundo na palma da mão não nos trouxe domínio sobre ele. Ao contrário, o vemos escapar por entre os dedos porque quanto mais informações, corretas ou desencontradas recebemos por minuto, e menos maturidade temos para lidar com elas, maior a sensação da perda de controle.

Sem referências e vítimas dos sermões de intolerância, hiper competitividade desleal e diante das investidas de influencers superficiais, fúteis e gananciosos, nossos jovens se encontram cercados pelo medo, insatisfação e vazio existencial.

O que tem a ver com o Teatro Amarelo. Ora, nossa dramaturgia, desenvolvida ao longo dessas três décadas, com muita sensibilidade, apuro, cuidado e profundidade, registra dezenas de casos de crianças, adolescentes e jovens que encontraram um norte, um centro, uma motivação mais plenos através das aulas de teatro e da criação artística em geral.

A experiência artística possibilita a iluminar-se interiormente. O jovem depara-se consigo mesmo, numa viagem interna, pois para expressar-se artisticamente precisa olhar para dentro. E lá no seu interior – como de todo o ser humano – há luz! Existe um manancial esplendido e transformador de vida, promovendo o melhor de nós.

Temos reafirmado sempre que Arte Cura, Arte Salva e não acreditamos nisso pela teoria e sim pela prática. Muitos que vieram até nós, crianças pequenas ou jovens, encontraram nesse nosso Teatro Amarelo uma inspiração vangoghiana, que é, justamente o que o pintor holandês afirma: “a visão das estrelas me faz sonhar.”

Guiados por Vincent Van Gogh, nós da Cia. da Casa Amarela criamos nosso Teatro Amarelo como uma forma de iluminação do público, através de nossas propostas dramatúrgicas e estéticas que visam sensibilizar o público infanto-juvenil com uma mensagem clara de que sempre há uma luz no final do túnel, como há uma luz na alma de cada um, esperando o momento de brilhar. Porém, é preciso olhar estrelas, sentir o vento, ouvir a música e o silêncio, deixar-se contaminar pela existência plena, intensa e iluminada que ainda existe nos homens: o idealismo, a beleza, o sonho, a sensibilidade, a poesia e o amor à vida!

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.