O rabo do cachorro do Alcibíades

“Um dos cidadãos mais controversos da Grécia antiga, era um general chamado Alcibíades (450 a 404 a.C.). Apesar de ter se distinguido como militar, foi um político corrupto, demagogo e inábil. Ele possuía um cachorro de estimação, de tamanho e forma excepcionais, que adquirira por sete mil dracmas. Certa feita, em plena praça pública, e sem motivo aparente, Alcibíades desembainhou sua espada e decepou o rabo do pobre animal. A notícia da crueldade rapidamente se espalhou por toda Atenas e, enquanto alguns cidadãos lamentavam o episódio, outros tentavam sondar suas possíveis causas. Poderia ter sido para prevenir a raiva, como os gregos acreditavam? Uns admitiam que o cão sem rabo caça melhor, além de evitar lesões. Outros alegavam que fora por motivos estéticos. O certo é que o pretexto permanecia um mistério e, durante muito tempo, não havia reunião, pública ou privada, em que não se falasse do rabo do cão de Alcibíades. Procurado por seus amigos, que pensaram que ele ficara louco, Alcibíades apenas riu e disse: "É exatamente isso que eu quero. Enquanto o povo fala sobre o rabo do cachorro, se esquece de falar mal do meu governo". Nossos governantes, historicamente em muitas situações usaram dessa mesma metáfora quando quiseram desviar o foco da mídia e principalmente do povo de um determinado escândalo, episódios sórdidos ou desvios do dinheiro público. Para isso lançaram mão de um outro fato bombástico, supostamente positivo, para ocupar as manchetes dos jornais. A notícia nova, ainda que, em realidade, não faz por merecer o destaque que é lhe dado, camufle a anterior. Como essa nova notícia passa a ser o assunto do momento, o povo esquece da manchete de um escândalo do dia anterior e até mesmo os nomes dos protagonistas envolvidos. E, é assim que a vetusta e provecta política é praticada em nosso país, onde todos os dias, em algum lugar, se corta o rabo do cachorro como fez Alcibíades.  “Enquanto os cães de rabo cortado ladram, o povo comenta e a caravana passa.” Nota: A parte histórica desse artigo, inclusive o título, é de autoria de Alexandre de Andrade Cardoso, cujo texto viralizou na internet.

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.