O quibe lá de casa
Não passo vergonha na cozinha. Sei fazer bastante coisa, em especial da culinária árabe. Em casa, o normal era ter na mesa comida árabe todo dia. Ficava por conta da minha avó, da minha mãe e dos meus tios. Mas fui aprender a cozinhar só quando entrei na faculdade.
Recentemente um conhecido voltou de uma viagem falando mal da culinária da Itália. Não gostou do fast food do aeroporto de Roma. Falou também que a comida italiana é ruim e pior que a “nossa” comida italiana. Avaliação incauta de um país onde existem mais de 500 variações de um prato que nós simplesmente chamamos de macarrão. Um italiano disse-me que não se mistura macarrão com carne moída “à Bolonhesa” na Itália, coisa de brasileiros.
Diferenças existem também na comida japonesa. A que se serve no Brasil foi inspirada na comida japonesa dos Estados Unidos. O sushi ocidental tem sabores ousados e cores fortes, o que explica a popularidade de pratos com salmão, abacate e cream cheese. Esse é o tipo de comida que você nunca encontraria em um restaurante de sushi tradicional em seu país de origem. O consumo de peixe cru não é uma prática rotineira no Japão onde na maior parte de tempo a comida é cozida. O consumo de macarrão é comum tanto na China quanto no Japão. Aliás, existe um prato muito semelhante nas 2 culinárias com nomes diferentes: Yakisoba e Macarrão Shop Suey. Aproveito e digo que uma das maiores invenções da humanidade é o macarrão instantâneo, do tipo “lamen”, famoso no Brasil com o nome de miojo, muito popular nas repúblicas de estudantes.
Outro exemplo é a Paella espanhola que basicamente se divide entre a original, da Valencia, feita com carnes de coelho e frango e a marineira, com frutos do mar, a mais popular por estas bandas. Se lá pode ser feita ainda com frango, pato, suínos, coalho, chouriço, feijão verde e diversos condimentos, imagine aqui no Brasil.
Em todo país marítimo, comem-se mais peixes no litoral e outras carnes no interior.
Nunca se preserva a “pureza” da comida do país de origem. Criam-se novos sabores, texturas, ingredientes e técnicas que combinam a essência da culinária original com cultura local.
Volto à comida árabe. Em qualquer boteco é obrigatório você encontrar quibes e esfihas. Em todo churrasco você serve a kafta. Já comi até quibe verde e tabule marrom (o tabule é uma salada de salsa e não de trigo).
Numa região que possui uma grande colônia árabe, posso dizer que já comi bastante comida árabe de excelente qualidade na casa de “brimos”, “barentes”, amigos, restaurantes e até mesmo em bares de rua.
Mas igual ao tempero de casa não existe. É o que falam Isabela e João a respeito das “pratolícias” da Denise. Não existe nada como o tempero do seu país. Muito menos como o tempero lá de casa.
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