O que tira você de casa?

Já tinham me falado que com a idade as coisas pioram. Eu, desde que me formei, faço o tipo caseiro. Marca que se acentuou com o casamento e mais ainda com a vinda dos filhos.

Ouvi dizer que tem até descrição de doença que se caracteriza por gente que não sai de casa por fobia social. Não é o meu caso. Relaciono-me bem com as pessoas. Creio que me classifico nos quesitos cansaço e desinteresse. Eu até saio, mas tem que ter um bom motivo.

Não vale trabalho. Eu gosto de trabalhar. Nem que seja para pagar as contas, você sai de casa para trabalhar.

Não vale voto. O voto ainda é obrigatório. Acredito que mesmo no dia em que deixar de ser, eu continuarei exercendo meu direito.

Vamos então aos atos voluntários.

Aniversário de criança. Curto até hoje. Há quem deteste. Que outro lugar vou poder jogar fliperama e pebolim? Comer cachorro quente e brigadeiro? Bolo com guaraná? Com alguma sorte tem até cajuzinho de amendoim.

Aniversários e festas de amigos também vale. Como bom descendente de árabes, valorizo muito os amigos que tenho.

Casamento. Engraçado. Sempre sinto-me casando de novo quando vou a um casamento. Sempre lembro do meu. É muito bom ver uma família começar.

Lançamento de livro. Vou a todos que posso. Para o autor, é como se nascesse um novo filho.

Inauguração de algum comércio. É sempre bom ver o sonho nos olhos de quem começa um empreendimento. Dá gosto de ver ele falar de como atenderá o cliente, da qualidade dos produtos e outros detalhes do ramo.

Lançamento de um filme. Tenho uma TV bem grande, mas cinema é cinema.

Até agora só falei de festa. O estimado leitor poderia inadvertidamente pensar que sou o maior festeiro do pedaço. Não sou.

Não gosto de nenhum lugar que o som esteja alto. Só de imaginar dá calafrios. Não gosto de lugares onde você não consiga conversar direito com as pessoas. Por este motivo pouco vou a shows e coisas do gênero.

Não vou a comícios. Acho que nem existe mais isso. Quando existia não ia. Mas serve eventos partidários no lugar. Como no Brasil é perigoso você se comprometer politicamente, não vou de jeito nenhum. Sua presença no local pode levar a interpretações erradas. Só inocentes e inseguros acham que todos tem que ter uma posição política. Para quê? Para você tomar chumbo do lado contrário? Estou fora! Deixa eu trabalhar em paz. Já foi o tempo...

Voltando ao que me tira de casa: supermercado e feira livre. Dizem que quando você sabe o preço de um produto em mais de 2 lugares é porque ficou velho mesmo!

Mas não vejo a hora de chegar do que realmente me faz sair de casa aos domingos de manhã: trocar figurinhas. Já sortearam os grupos da Copa. Não vejo a hora do álbum chegar. Já perdi a desculpa de que é para meu filho, que já tem 16 anos. É para mim mesmo! Voltarei ao assunto.

Pena que é de 4 em 4 anos.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.