O que é preciso fazer?
“Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura.”
Herbert José de Souza (Betinho)
No próximo dia 9 de agosto, completaremos vinte e cinco anos sem Herbert José de Souza, o Betinho, que notabilizou-se como o sociólogo e ativista dos direitos humanos que concebeu e dedicou-se ao Projeto Ação contra da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Homenageado como "o irmão do Henfil" na canção 'O Bêbado e a Equilibrista', de João Bosco e Aldir Blanc, gravada por Elis Regina: "Meu Brasil / que sonha com a volta do irmão do Henfil / com tanta gente que partiu…" - à época da Campanha pela Anistia aos presos e exilados políticos, voltou ao Brasil, anistiado em 1979.
Em tempos de crise, de miséria e fome, deparamo-nos com o comovente apelo de uma criança, Miguel de Barros, de onze anos de idade, que ligou para a polícia depois de ver sua mãe chorando porque não tinha comida para dar aos filhos: “Ô, seu policial, aqui... É porque aqui em casa não tem nada para a gente comer. Aqui, minha mãe só tem farinha e fubá para a gente viver...”.
Impossível não lembrar de Betinho diante do caso tão comovente e, também, quando nos deparamos com a declaração do governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, diante da imensa fila da pobreza em Cuiabá, que o açougue distribui “ossos de qualidade” e que os “ossinhos” dão um “prato delicioso”. A “fila do ossinho” como foi intitulada, revela o aumento da pobreza na cidade e no estado, bem como um retrato do crescimento da fome e da miséria em nosso país! E não importa aqui se está matando a fome ou não, e sim a permanente ironia e descaso desses políticos que desdenham o povo com suas piadinhas de mau gosto e insensibilidade cruel.
Com toda riqueza e potencial do nosso país é inadmissível que famílias passem fome. Quanto as vozes que se levantam alegando, sim, que é uma crise mundial, lembremos que o Brasil é rico, é grandioso e poderia suprir as necessidades de toda nossa população com farta distribuição de alimentos e oportunidades a todos.
Voltando a Betinho: um país que não potencializa sua cultura, não pode crescer. É preciso intensificar a necessidade de nos reconhecermos brasileiros, capazes de transformar e construir e criar um país mais justo e humano. É a nossa identidade! E cultura é a identidade de um povo. Há algum tempo já o Brasil perdeu muito de sua identidade. Deixamos de ser o pobre alegre, festivo, criativo e democrático para nos transformarmos em criaturas violentas, intolerantes e incapazes de se comover com a dor outro.
Herbert de Souza, em sua ação de cidadania, incluiu a Educação, a Arte e a Cultura. Uniu-se a professores, artistas, enfim, àqueles que estimulam o pensamento e a criatividade, algo que nós brasileiros somos mestres! No entanto, a falta de políticas culturais eficazes, agregadoras, nos fez um país submisso, cada vez mais, às culturas externas, estrangeiras. O que é preciso fazer? Despertar o melhor de nós, começando pelo investimento na Educação e na Cultura, estimulando nossas crianças e jovens a descobrirem sua identidade, sua própria história e cultura; promover encontros de pensamentos e ideias transformadoras, onde se possa dialogar, crescer e trocar.
A Arte e a Cultura são poderosas ferramentas de construção de um país!!!
Quando fechávamos esse artigo, fomos surpreendidos pela notícia da morte do grande Jô Soares. Ficamos mais pobres porque perdemos umas das mentes privilegiadas do nosso país. É de cabeças pensantes como a dele que estamos escrevendo. Quantos Jô Soares existem em nosso país, em nossas escolas ou nas ruas, nas filas da fome, com tanto potencial para ser investido?
A cultura deve ser soberana, ampliada em ações construtivas e permanentes, para que, ao nos enxergarmos como povo livre, saibamos construir um país mais justo e lúcido para ser governado por políticos empáticos com as verdadeiras necessidades da nação.
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