O português de lá nem sempre é como cá

Se você nunca esteve em Portugal, não sabe o que está perdendo e, certamente não se arrependerá de inclui-lo no seu próximo roteiro.  E, se você já conhece aquele país, vale a pena voltar. Portugal é um desses poucos lugares em que sempre fica o desejo de quero mais. Além de histórico, possui uma gastronomia que é impossível não agradar até os mais exigentes. Em Portugal, você come bacalhau todos os dias e não se cansa de repetir essa iguaria. Não muito diferente é o pastel de nata (pastel de Belém é apenas uma marca), presença obrigatória em todos os cafés, confeitarias (e são muitas!), bares, restaurantes e até mesmo nos hotéis, sem contar com a suavidade dos vinhos de Alentejo e o incomparável sabor intenso do vinho do Porto. O povo é hospitaleiro e a língua é um fator facilitador em tudo. Portugal convive harmonicamente com o histórico e o moderno; o fado, o hip-hop e o rap; o vinho e a super book (cerveja do Porto mais consumida no país); os monumentos históricos e o moderno Pavilhão Atlântico (construído para a Expo 98); os bondinhos e as modernas linhas de metrô; as carrinhas e os carrões (BMW, Mercedes, Aundi, Range Rover, etc). Enfim, os portugueses relacionam-se muito bem com mais de seiscentos mil brasileiros que lá moram, trabalham ou estudam, mas estão incomodados com o número de imigrantes da Índia, Paquistão, Romênia, Ucrânia, Cabo Verde e principalmente muçulmanos, que, a maioria sequer fala o português. E, por falar em português, muitas palavras dessa mesma língua, considerada mãe, não se fala cá. Assistindo ao jogo da Eurocopa, o narrador assim descreveu um lance: A equipa de Portugal está a merecer um gol, mas no pontapé livre (cobrança) no canto (escanteio) a carcasa (corpo) de Cristiano Ronaldo perto da meta (gol) não estava, então ficou fácil a intervenção do guarda metas (goleiro). O comentarista que intervinha na narração a todo instante, sacou: “Cristiano Ronaldo que veste a camisola (camisa) 10, não adianta ficar queixoso (reclamando) já que está a jogar mais como trinco (que atua entre o meio de campo e o ataque), e dessa maneira a equipa está a ficar na calda da lista classificativa (final da lista de classificação), estando a perder de dois bolas a um (dois gols a um), isso tudo no minuto 85 (quarenta minutos do segundo tempo). Eita narração excogitável! A gente até entende mas soa estranho, não é mesmo? Algumas outras palavras também são diferentes, exemplo: comboio (trem), carruagem (vagão), carrinha (carro), gajo (moço, jovem), rapariga (moça, mulher), miúdos (crianças), auto bus (ônibus), pastel de bacalhau (bolinho), cacete (pão francês), bica (cafezinho), peão (pedestre), pica (injeção), propina (mensalidade, parcela mensal), durex (camisinha), fita cola (durex), gira/o (interessante, engraçado),  imperial (chopp), rebuçados (balas de doces), bicha (fila), guarda lamas (para lamas), hospedeira (comissária de bordo - aeromoça), sebenta (apostila), casa de banho (banheiro), pequeno-almoço (café da manhã), cuecas (calcinha, ops!!!), telemóvel (celular), autoclismo (descarga), passadeira (faixa de pedestre), frigorifico (geladeira), agrafador (grampeador), esferovite (isopor), fato (terno) e por aí vai... No começo a gente acha incomum e até mesmo engraçado, mas depois se acostuma. Às vezes não parece que estamos a falar (eles não usam “falando”, ou seja, o tempo nominal do verbo no gerúndio) a mesma língua. Eles acham estranho como falamos ou estamos a falar e nós, é claro, não menos diferente pensamos!

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.