O político, o céu e o inferno

Se você não foi eleito, não lamente. Afinal, a democracia representa a prevalência da vontade da maioria, e é preciso respeitá-la. Se a vontade da maioria não quis a sua eleição, simplesmente aceite o resultado. Se você realmente desejava ajudar a sociedade a ser melhor, e o povo a ser feliz, com certeza os seus planos não serão prejudicados, afinal de contas fazer o bem ao próximo e trabalhar pelos interesses públicos independe de ter um cargo público e do alto salário recebido para exercê-lo. Aliás, se você não tem atuado durante toda a sua vida por um mundo melhor para todos, por Deus, porque e para que você se candidatou??... Se foi pela remuneração, pela vaidade e possíveis ganhos pessoais, perdão, mas você entendeu tudo errado! Candidatar-se a um cargo eletivo nunca é sobre si mesmo, mas sobre os outros! E é por esse engano fundamental que vivemos uma realidade tão caótica na sociedade. A sujeira e a podridão da Política não estão nela, mas no que fazemos dela. Se o político estiver verdadeiramente a serviço do povo, então a sua atuação será honrada e honrosa. Do contrário o mandato obtido será sempre uma frustração e uma fraude.

Se você foi eleito, não comemore. A Política não é sobre satisfazer seus desejos e sonhos, mas sim sobre conseguir meios para satisfazer as necessidades das pessoas, de encontrar caminhos para o exercício dos direitos delas, individuais e coletivos. A única forma honrosa de exercer as atribuições de um cargo público eletivo (única!!) é atuar desinteressadamente pelo interesse público, de modo que nenhuma vantagem pessoal seja desejada. Ao contrário de comemorar, se você foi eleito faça um retiro para reflexão sobre a gigante responsabilidade que atraiu para si, porque você será meticulosamente cobrado por ela, se não pelo povo, pelos seus eleitores, se não por estes, cedo ou tarde por sua própria consciência, essa parte do nosso ser que nos garante o céu ou o inferno como resultado das nossas condutas.

Aos eleitos para a Câmara Municipal, desejo que tenham ou desenvolvam a consciência de que são servidores do povo, e que atuem humildemente em benefício dele. Desejo que cessem os negócios escusos, os discursos inflamados fundados em intenções torpes, o enriquecimento ilícito, as críticas infundadas e os elogios imerecidos, as dificuldades impostas como condição para a venda de facilidades, e todas as condutas odiosas que comumente caracteriza neste país a atuação de membros do Poder Legislativo.

Ao eleito para a Prefeitura, desejo que o contexto político partidário que viabilizou a candidatura e a eleição fique para trás, e que de agora em diante e durante todo o mandato a única motivação para a administração pública seja o quanto de bem estar e desenvolvimento é possível promover para todos, com um olhar e atenção especial para aqueles que mais precisam.

Se você se candidatou, não foi eleito e a sua intenção era a de ajudar as pessoas, não fique triste ou frustrado: mostre para todos qual era a sua verdadeira intenção e dedique a sua vida para o bem das pessoas.

Se você foi eleito, não comemore esse fato. Comemore sim - e todos os dias! - a benção que significa a oportunidade de servir o povo e o faça de forma digna, honesta e devotada durante todos os dias do seu mandato, como se a opção entre o céu e o inferno dependesse disso (e assim é...).

Autor

Wagner Ramos de Quadros
Juiz do Trabalho e diretor de Relações Institucionais da Arcos.