O pequeno gigante
Há dez anos morria Nelson Ned, um dos maiores vozeirões da música brasileira. Primogênito entre sete irmãos, apenas ele teve um distúrbio ósteo-articular que o impedia de se desenvolver. Isto fez com que ele atingisse a altura de 90 centímetros quando adulto. Seus três filhos herdaram o nanismo.
Ganhou seu primeiro prêmio numa rádio aos quatro anos. Com 12 anos, já se apresentava em rádios de Belo Horizonte. Aos 17 anos gravou seu primeiro disco. Aos 22 anos ganhou um festival internacional em Buenos Aires, Argentina, que o catapultou para a fama. A música, “Tudo passará” (1968), de sua autoria, foi o maior sucesso de sua carreira e um fenômeno de vendas. Foi regravada por dezenas de cantores, em dez idiomas. Foi plagiada duas vezes. Faz parte da trilha sonora do “Ursinho Pooh” dos Estúdios Disney. Sobre esta canção, Nelson Ned, disse numa entrevista: “É a que mais gosto. Quando cantei em um programa fui aplaudido de pé no meio da música. Isso é ser brega? Quem não é brega quando fala de amor? É o amor que é brega, não a minha música”.
Foi o primeiro artista latino a vender um milhão de discos nos Estados Unidos. Apresentou-se quatro vezes na lendária casa de espetáculos Carnegie Hall, no coração de Nova Iorque. No total, vendeu mais de 45 milhões de discos, número bem maior do que muitos cantores mais “chiques” do que ele. É o oitavo em vendas na história da indústria fonográfica do Brasil. Fez um sucesso estrondoso na África e na América Latina, onde foi extremamente popular. Lotava estádios e arrastava multidões por onde passava. O paradoxo, é que ao mesmo tempo, não conseguiu o mesmo feito no Brasil, onde por vezes, mal preenchia os lugares de bares ou churrascarias.
Ele não tinha o carimbo da Bossa Nova ou de outros movimentos musicais brasileiros. Não era “sofisticado”. Era “brega”. Era discriminado por ser anão, tema de piadas públicas a este respeito. Entre seus fãs famosos estavam desde foras da lei como o ditador Baby Doc do Haiti, o fora da lei Pablo Escobar até o escritor colombiano e prêmio Nobel de Literatura (1982) Gabriel García Márquez. Este, contava que tinha todos os discos de Nelson Ned e quando falava isto para um brasileiro, ou mudavam de assunto ou era motivo de zombaria.
Mais um exemplo de alguém que foi rejeitado pelo Brasil ao mesmo tempo em que era admirado internacionalmente. O sucesso, infelizmente se transformou em uma queda vertiginosa causada por álcool, orgias, cocaína e morfina que usava para aliviar as dores causadas por sua displasia óssea. Ele cantava numa de suas músicas que tinha uma “vida que daria um livro”. Esta frase pegou. Eu já a escutei incontáveis vezes, vindas de tudo quanto é gente. Mas a história dele foi bem intensa. Assim como seu vozeirão. O que fez dele um gigante da canção!
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