O Patinho Feio

Você conhece o Conto do Patinho Feio, de Hans Christian Andersen? Em resumo, ele narra a história de um cisne que não sabia que era cisne e pensava que era pato, porque havia sido criado como pato entre patos que também pensavam que ele era um pato, só que feio. Por possuir as características físicas e estéticas de um filhote de cisne (geralmente acinzentado; enquanto filhotes de pato costumam ser amarelados), ele era ofendido tanto pela comunidade dos patos quanto por outros pássaros e aves, que igualmente desconheciam sua verdadeira origem. Todos caçoavam dele por sua reconhecida “feiura”.

Certo dia, após uma grande humilhação, ele fugiu de casa. Tornou-se andarilho, errante. Por todos os lugares pelos quais passou, o preconceito o perseguiu. Até que um dia, tempos depois, à beira de um lago, ele encontrou um bando de cisnes, que ele de imediato passou a considerar as mais belas criaturas que já tinha visto em toda sua vida de... cisne! Ele olhou para seu reflexo na água e, Narciso às avessas, percebeu, afinal, que não era um patinho feio, membro daquela espécie que tanto o maltratara. Ele também era um cisne, um magnífico cisne! Crescera e desabrochara.

Na tarde do domingo passado, saltando de vídeo em vídeo pelo YouTube, reencontrei três vídeos que retratam a saga do Patinho Feio. São as histórias reais de Paul Potts, de Susan Boyle e de Jonathan & Charlotte; participantes do Britain’s Got Talent, um show de talentos televisivo exibido no Reino Unido. Os cinco chegaram ao palco como “patinhos feios”: com a aparente exceção de Charlotte, par artístico de Jonathan, os outros quatro foram sumariamente tratados como “feios” tanto pela plateia quanto pelos apresentadores do programa. Foram julgados pela aparência e, por não serem considerados “bonitos”, inicialmente desdenhados.

Mas... quando abriram a boca, tudo mudou! Vozes potentes, excepcionalmente belas, que comoveram o público. Vozes que deram ainda maior tônus existencial às obras interpretadas. Ao cabo de cada uma das apresentações, plateia e apresentadores estavam visivelmente chocados: o choque da realidade por detrás das aparências desatou aplausos, lágrimas e sorrisos. A Arte foi manifestada em todo o fulgor da sua glória e os “patinhos feios” finalmente se enxergaram como cisnes através do espelho do olhar admirado de quem antes, minutos antes, os havia menosprezado.

Lembrei de Jesus Cristo. O Salvador, não sei se você sabe, foi retratado como um homem feio nas Escrituras proféticas. Assim está escrito em Isaías 53:2: “Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada em sua aparência para que o desejássemos.” Deve ter sido uma grande surpresa para aqueles que, então, rejeitaram Jesus de Nazaré como “patinho feio”, não?

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor