O novo velho conflito

Gostaria que os estimados leitores lessem as frases abaixo e tentassem adivinhar que as produziu:

1) "Nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus."
2) "Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível."
3) "Nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe."
4) "Essa juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura."
As frases são atribuídas aos seguintes autores:

A primeira é de Sócrates, (470-399 a.C.), um dos maiores filósofos de todos os tempos. A segunda é de Hesíodo (750-650 a.C.), poeta que instituiu junto com Homero as bases da religiosidade da Grécia Antiga. A terceira é de um sacerdote do ano 2000 a.C. e a quarta estava escrita em um vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilônia e tem mais de 4000 anos de existência.
Surpresos? Perceberam que é desde sempre?

Apesar de tudo, os mais velhos detinham o poder e resolviam os problemas na força. No entanto, hoje o poder é pulverizado e os mais antigos não monopolizam todas as formas de poder. Em alguns campos, como o tecnológico, os jovens ditam as regras.
O conflito de gerações sempre continuará a existir. Enquanto os antigos se apegarem a um lugar, a um modo de viver, a ideias, a conceitos e a preconceitos, o choque sempre acontecerá.

Chama muito a atenção o conflito existente na educação.

O sistema de ensino foi montado em cima de princípios e valores de um mundo que não existe mais há muito tempo. Estamos formando jovens dotados de habilidades e competências para viver num mundo que não existe mais. Atualmente as transformações são instantâneas e mal temos tempo de nos adaptarmos a uma mudança e lá vem outra...

Inevitáveis são as comparações. O que mais se escuta é que os jovens de hoje não são bons como os jovens de antigamente. Igual nas quatro frases iniciais deste texto.

Eles não são melhores nem piores que nós. São simplesmente diferentes. Assim como fomos em relação à geração anterior. E assim será sempre.

A escola e seus líderes devem enxergar este fato e começar a moldar as instituições e os métodos para uma nova e dura realidade.

Senão, como há quatro mil anos, teremos conflitos e tentativas de descrédito das gerações futuras. Envelhecer não significa menosprezar a juventude!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.