O mundo muda e tudo passa

Precisei de um número de telefone. Acho que por instinto eu procurei uma lista telefônica. Qual nada. Informaram-me que tanto elas quanto as páginas amarelas já não existem há um bom tempo.

E lembrei-me de muitas coisas que sumiram das nossas vidas. Tornaram-se obsoletas, ultrapassadas, fora de lugar, disfuncionais.

Quando criança, a Barsa (Enciclopédia Britânica) era a palavra final sobre tudo quanto era assunto. Eu diria que era o avô do Google só que em papel. É curioso pensar que todo o saber do mundo estava contido numa coleção de livros. Pelo menos para mim era. Ainda a vendem. Só que paga-se a licença. Parece mais artigo para saudosistas de um tempo que não existe mais.

Tente achar um CD de algum cantor para dar de presente. As lojas que vendiam discos acabaram. Você compra CD hoje em supermercados, bancas de revistas ou livrarias. Com a concorrência do DVD e do velho vinil. Engraçado, o vinil voltou. Eu não sei se isso é velho ou é novidade. Eu sei que o MP3 e o pen drive sacudiram a indústria fonográfica.

As locadoras de filmes praticamente acabaram. Esse setor sofreu baques seguidos. Primeiro quando passou de VHS para o DVD. Eu lembro de discussões acaloradas entre clientes argumentando que quase não tinha diferença. Do setor quase não há vestígios. O Netflix e similares roubaram a cena. Até o IBOPE aprendeu a medir o impacto deles na audiência.

O Whatsapp está acabando com a ditadura das operadoras de telefonia. Acredito que a moda pegou mais pela aversão que as pessoas tinham às operadoras e seu famoso mau atendimento (campeões de queixas no PROCON) do que pela praticidade que é muito grande. Além da fuga dos extorsivos preços destes serviços. Na mesma área, o celular está acabando com o telefone fixo. Este só serve para receber ligações gravadas da Fafá de Belém e do Moacyr Franco oferecendo alguma coisa e alguém procurando a dona anterior da minha linha atual.

O Booking e o Airbnb complicaram as agências de turismo e os hotéis. Conheço um monte de gente que faz tudo sozinho pela internet. Sou dos que preferem recorrer a uma agência. Mania de segurança e confiança. Mas o setor tem que se reinventar para não sumir.

As mídias sociais são a esfinge moderna do setor de comunicação e das agências de marketing. Ninguém decifrou direito o enigma. Antes, você fazia um anúncio e tinha uma estimativa, muitas vezes um chute, de qual seria o impacto do mesmo. Agora tem a métrica do clique. Só que não existe uma fórmula certeira para alguma coisa “pegar” na internet. Parece que tem mais chute agora do que antes.

Impressiona-me o uso cada vez maior de eleições e votações pela internet. Isto certamente mudará os conceitos de representatividade. Será uma versão moderna da democracia grega, sem intermediários. Se a moda pega...  

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura