O mundo está chato... Será?

“O mundo está chato”, “não podemos falar mais nada”, “muito mimimi”, “na minha época...”, essas e outras tantas frases ressoam de forma constante no nosso dia a dia, como se a nossa sociedade estivesse baseada em um vitimismo que não permite certas expressões vulgares sob o pretexto de “brincadeiras”.

Entretanto, além de uma visão reducionista, enraizada em falsas lembranças e repletas de preconceitos velados, não passa de falácias. Basta abrir os noticiários dos mais diversos jornais que encontramos atos de racismo, preconceito, humilhações, assédio moral, entre outras formas de “brincadeiras”. Além disso, muitas das respostas desses agressores vem pautadas no “quem me conhece sabe que nunca fui preconceituoso” ou respostas similares.

Será mesmo que a sociedade atual está cheia de mimimi ou será que ela já não aceita mais as formas de violência velada que persiste em nosso cotidiano? A violência contra mulher continua crescendo, há aumento dos casos de preconceito racial, de gênero, entre outros, o Brasil é o país que mais mata a população LGBTQIA+. Dessa forma, combater tais atos não transforma a sociedade em algo chato, muito pelo contrário, revela uma maior consciência dos que estão frente a esta lida.

O problema está de fato em uma memória nostálgica e irreal de que em determinado tempo era melhor, que ofender e agredir era sinônimo de brincadeira. Não existe brincadeira quando alguém é ferido, não existe brincadeira quando somente um é vítima de humilhações para divertimento de outrem...

Dessa forma, é necessária uma revisão interna de certos comportamentos cristalizados, pautados em falso moralismo para que realmente possam pesar cada atitude, alguns valores construídos ao longo do tempo hoje já não são mais aceitos e lidar com essa realidade faz com que nos tornemos seres humanos melhores.

A mundo não está chato, nós quem precisamos nos assegurar que não estamos sendo os chatos da vez, reverberando coisas que não se enquadram no nosso cotidiano. Para tanto, é necessária uma consciência crítica e reflexiva, que falta a muitos. Para sermos melhores, precisamos nos reconstruir constantemente, sem isso, continuaremos a falar e agir de forma errônea e incauta, muitas vezes, até criminosa. Pensemos...

Autor

Eduardo Benetti
Professor Recreacionista em Catanduva