O medo da novidade

Mudanças sempre provocam apreensão. Cada vez que uma novidade aparece, surgem os opositores, normalmente os afetados pela mudança ou os que ficam para trás. Foi assim no passado e não é diferente agora. Quando surgiu a televisão, houve quem pensasse que o diálogo direto que o rádio possibilitava com o ouvinte, perderia o encanto. Lembro-me do dia em que comprei o disco dos “Embalos de Sábado à Noite” (1977), trilha sonora do filme homônimo, com John Travolta (1954 - ). Ouvi que aquilo era lixo e que bom mesmo era Vicente Celestino (1894 – 1968). Este episódio fez com que dali em diante, pelo menos escutaria novos ritmos musicais e novas músicas, hábito que mantenho até hoje.

Considero imprescindível para um jovem que pretenda ganhar o mundo, aprender bem o inglês e se possível outros idiomas. Aprender direitinho, com escuta, fala, escrita e gramática. Em certas atividades, a fluência no idioma é fundamental. Mas em viagens pelo mundo, um tradutor simultâneo eletrônico ajuda muito!

Os relacionamentos mudaram drasticamente com o avanço da tecnologia. Há 20 anos, o Facebook surgiu com a proposta de conectar pessoas, e rapidamente se tornou uma ferramenta tanto de integração social quanto comercial. Logo depois vieram outras plataformas, como o Orkut (já sumiu), o Tinder, que revolucionou as relações amorosas, e o WhatsApp, que se tornou essencial na comunicação diária. Twitter e Telegram se somaram a essa lista. Não tratarei aqui do mau uso desses recursos. Essas ferramentas redefiniram a forma como nos relacionamos, trazendo pessoas para mais perto, mesmo que fisicamente distantes. A cada nova rede, um novo comportamento foi se estabelecendo, e a vida se adaptou à presença constante de notificações e mensagens instantâneas. Antes parecia um luxo. Hoje é uma necessidade. Os laços se tornaram virtuais. Há quem diga que isto afasta as pessoas, ao invés de aproximá-las. Eu acredito que a pessoa já nasce com tendências à reclusão. A tecnologia só facilita o hábito.

Agora, é a vez da inteligência artificial. Assim como outras revoluções tecnológicas, ela chega para transformar, gerar debates e, claro, causar medo. As máquinas que aprendem, falam e até criam nos fazem questionar os limites do possível. Mas, como aconteceu com todas as mudanças anteriores, o susto vai passar. O desconhecido sempre assusta, mas também instiga a curiosidade e o progresso. E o barateia.

No fim, a história nos mostra que a resistência inicial às mudanças dá lugar à adaptação. O novo se torna cotidiano, e aquilo que um dia causou medo se transforma em mais uma peça da nossa vida. A inteligência artificial, assim como tantas outras inovações antes dela, encontrará seu espaço e, em breve, fará parte da nossa rotina. E o medo? Voltará com a próxima novidade!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.