O lutador
Um dos meus ídolos de infância foi Eder Jofre. O “Galo de Ouro” era paulistano e nasceu em 1936. Ainda adolescente largou do desenho industrial e abandonou pelo boxe, a mentoria do famoso artista plástico Aldemir Martins, fã e frequentador assíduo das noitadas de pugilismo.
Estreou aos 17 anos na “Forja dos Campeões”, torneio de boxe amador promovido pela Gazeta Esportiva. Seu mestre e treinador era o próprio pai, Kid Jofre, ex-boxeador. Do lado materno, era da família Zumbano, clã que produziu 28 boxeadores. Disputou os Jogos Olímpicos de Melbourne, Austrália, em 1956. Na preparação, treinou com lutadores bem acima do seu peso. O resultado foi uma fratura de nariz. Perdeu para o chileno Claudio Barrientos, que anos depois, o enfrentaria como profissional, numa luta que ficou famosa por ter ocorrido oito nocautes.
Profissionalizou-se em 1957. Em 1958, já era campeão brasileiro dos pesos Galo. Em 1960, campeão sul-americano. Foi campeão mundial de 1961 a 1965 até perder duas lutas por pontos, no Japão, para o boxeador local Mashiko Fighting Harada. A primeira delas foi em decisão controversa dos jurados. Aposentou-se.
Em 1970, retornou aos ringues e foi campeão de uma categoria acima dos Galos, o peso Pena. Aposentou-se em 1976 e dedicou-se a fazer lutas de exibição no circo de sua tia e a dar aulas de boxe em academia. Tinha um cartel de 81 lutas, 75 vitórias sendo 52 por nocaute, quatro empates e apenas as duas derrotas já citadas acima.
Tinha um estilo versátil, adaptava-se facilmente ao estilo de luta do adversário. Era considerado um lutador muito técnico, mas com bastante “pegada” nos golpes. Golpeava com ambas as mãos. Tinha reflexo, velocidade, queixo “duro”, inteligência e coragem. Podia se dar ao luxo de escolher entre lutar com “classe” ou partir para a ”briga”. Esquivava-se com maestria.
Nos anos em que lutou, existiam menos categorias de peso e cinturões, o que tornava muito mais difícil ser campeão. Foi considerado o melhor lutador mundial em todas as categorias na década de 1960, à frente inclusive de Muhamad Ali, o segundo colocado na lista. Entrou para o Hall da Fama do boxe mundial. É considerado o nono melhor lutador de toda a história, juntando todas as categorias. É considerado também, o melhor peso Galo de toda a história do boxe. É reverenciado por campeões do presente e do passado. Para citar apenas um, Mike Tyson.
Foi vereador na cidade de São Paulo de 1982 a 2000. Em 2018, foi lançada a cinebiografia “10 segundos para vencer”. Há nove anos, sofria de encefalopatia traumática. Estava acamado há tempos. Ele se foi, mas sempre será lembrado pelos aficionados do boxe. Junto com Maria Esther Bueno, Adhemar Pereira da Silva e Pelé, compõe o grupo dos atletas brasileiros mais famosos de todos os tempos. Valeu campeão!
Autor
Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura.
É articulista de O Regional.