O Interesse pela Vida dos Outros
No livro “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, de autoria do historiador Yuval Harari, ele conta a história da caminhada humana até os dias atuais e projeta brevemente o que seria o futuro de nossa espécie, dividindo em temas que abordam as grandes revoluções vividas até o momento: cognitiva, agrícola e científica.
A capacidade de abstração e memória pertencem ao nosso cérebro, esta que nos permitiu formar sociedades nunca antes vistas, distribuídas em pequenas comunidades devido à escassez de alimento, tornando útil a revolução agrícola que produziu grandes quantidades de alimentos para uma grande civilização, pertencentes ao modelo de sociedade da revolução científica que só foi possível acontecer porque acumulamos excedentes para não nos preocuparmos em procurar alimentos.
Antes do século XX, somente os aristocratas faziam pesquisas, mas atualmente a ciência se tornou uma profissão possível para qualquer pessoa independentemente de sua classe social.
Nesta caminhada evolutiva, em muitos momentos nos perdemos com questões pequenas e atípicas, desviando o caminho da evolução enquanto não percebemos nossas próprias atitudes, quase sempre carregadas de desinformação e cultivo de poder sobre o outro, onde saber do outro, consiste não somente no ato de fazer afirmações baseadas em desinformação, mas estando sobretudo a serviço da destrutividade.
O meio de comunicação encontrou neste expoente comunicador um denominador que se perdeu no caminho, estando atrelado a interesses pequenos e não para o bem comum e processo evolutivo.
No livro “Homo Deus” do mesmo autor, ele fala das habilidades adquiridas pelos seres humanos (Homo sapiens) ao longo de sua existência e sua evolução como espécie dominante no mundo, nos confrontando com nossa finitude e vulnerabilidade, assim como no excesso de busca da ciência que vez por outra desrespeita as leis de sobrevivência natural que temos a nossa disposição desde que habitamos o planeta, e que não estamos conseguindo delimitar seu uso.
O interesse pela vida dos outros, ao mesmo tempo que foi no caminho evolutivo um importante elo de comunicação, nos colocou em contato com atitudes que criou uma sequência de modismos e pensamentos destrutivos, críticas desnecessárias que além de facilitar o hábito de propagar uma notícia sem permissão, nos colocou a imagem de nós mesmos.
Na contemporaneidade existe uma pobreza de linguagem oral e escrita, uma redução na expressão de sentimentos e articulação do pensamento que favorece se interessar destrutivamente pela vida do outro, escapando do “eu”, fazendo com que as pessoas se ocupem pela vida alheia para fugir de se olhar: toma-se uma atitude contra o outro sem pensar nas consequências que isto trará na vida do outro, potencializando animosidades enquanto propaga inverdades e não contribui para a evolução de nossa espécie, tornando o “Homo Deus” uma fantasia perdida onde a natureza humana se assenta no comum.
A cultura dominante civilizatória fez com que parte da humanidade acreditasse não só em sua própria onipotência, mas que os seres humanos detinham o controle de todas as esferas da vida, onde a linha tênue que nos divide das leis naturais de convivência e sobrevivência estão mal definidas. Onde iremos parar?
Este texto foi escrito ao som da música “Irlandaise 1 e 2” com Claude Bolling e outros.
Autor