O histórico e memorável Rio São Domingos

Cortando o centro da cidade, o rio São Domingos é um dos velhos companheiros da cidade de Catanduva. Divisor de bairros, criticados por uns, lembrado com saudades por outros, o ribeirão já foi palco de inúmeras histórias dentro de nosso município.

Conta-se que os primeiros moradores que aqui chegaram, no final do século XIX, usando uma variante da antiga Estrada do Taboado, resolveram parar por causa da água do ribeirão, e que, pela devoção dos homens, recebeu o nome de São Domingos, nomenclatura que também foi usada em um dos primeiros nomes de nosso povoado, Cerradinho de São Domingos. Aliás, antes desse povoado se tornar vila ou município, o ribeirão demarcava os limites dos municípios de Monte Alto e Rio Preto, sendo que as terras que ficavam na margem direita (São Francisco e Higienópolis) pertenciam a Monte Alto e as da esquerda (Centro) a São José do Rio Preto.

O São Domingos, que tem suas nascentes próximas a Santa Adélia, corta o município de Pindorama e o de Catanduva, na direção leste/oeste, passa pelo município de Catiguá e vai desaguar no rio Turvo, no município de Uchôa. Seu caminho natural serviu como roteiro para a construção da estrada de ferro, Companhia Estrada de Ferro de Araraquara, seguindo pela sua margem direita de Pindorama até aqui, sendo a Estação inaugurada em 1º de maio de 1910.

Urbanização

A estrada de ferro logo trouxe progresso e crescimento para a Vila, porém, toda a parte ribeirinha não podia ser utilizada porque tudo não passava de um grande brejo, com o leito do rio fazendo inúmeros meandros, deslizando calmamente pelo meio das taboas. Durante muito tempo, para se chegar da parte central da cidade até a Estação ou então assistir filmes e seriados no Cine Central, o caminho era pela rua Brasil, mas somente passando sobre as pinguelas que eram colocadas sobre ele.

Foi somente na administração do 1º prefeito, Sr. Ernesto Ramalho, que foram tomadas as primeiras providências para o aterramento da várzea, incluindo-se a plantação de eucaliptos para diminuir a umidade e consolidar o aterro e a regularização do leito do rio. Com o aterramento, muitas casas de comércio foram se achegando às suas margens.

Na década de 1940, com os prefeitos João Lunardelli e Sílvio Salles, grande parte da área aterrada foi transformada num dos lugares mais bonitos da região: o Parque das Américas.

Saudades

Para os saudosistas, o São Domingos era um ribeirão de águas límpidas que refletiam céu azul e o verde de suas margens; era piscoso, com peixes de muitas variedades como lambaris, piabas, mandis, bagres e curimbatás, alguns de tamanho bem grande.

Muitos também recordam com saudade o Formigão, parte do rio que ficava dentro das terras do Dr. Renato Bueno Netto, mais ou menos nos fundos do Conjunto Esportivo. Frequentado pela juventude nas décadas de 1930 e 1940, servia como escola prática de natação para todos aqueles estudantes que preferiam enforcar as aulas do ginásio, em qualquer dia da semana e alguns até se excediam, exibindo-se pelados quando o trem passava.

Prefeitos

No decorrer do tempo, cada prefeito procurou dar-lhe um toque diferente: o Sr. Antonio Stocco retirou terras do Estádio Ângulo Dias para aterrar suas margens, levando a Avenida São Domingos até próximo à rua São Paulo; o Sr. José Antonio Borelli colocou-lhe uma balaustrada e construído sobre ele o Viaduto Castelo Branco, ligando a Avenida São Domingos à Rua Curitiba; o Dr. Warley Agudo Romão protegeu as margens de erosão, com os gabiões; e o Dr. José Alfredo Luís Jorge procurou dragar seu leito e construiu um açude de contenção. Todos, porém, procuraram desassoreá-lo, afundando e alargando sua calha, temendo possíveis enchentes.

Enchentes

As enchentes sempre estiveram muito presentes na história da cidade. Quase todos os anos, desde que foi retificado, o São Domingos tentou mostrar sua força. Normalmente, após cada enchente, que também atingia os municípios vizinhos, prefeitos, vereadores, deputados, técnicos em geral se reuniam em simpósios e seminários onde planos urgentes eram organizados para a recuperação de sua bacia, para despoluí-lo e controlá-lo. Porém, logo se esqueciam do que fora tratado, deixando para o governante seguinte resolver.

O ribeirão se transformou, pelo menos no nome, no rio São Domingos, que já teve seus fiéis admiradores, sendo lembrado em quadro de Francisco Valsachi, em fotografias, em artigos de livros, jornais e revistas e em versos, como o de Pedro Capuccio, publicado no jornal A Cidade, de 15 de maio de 1977: “Eu te amo São Domingos, por tua humildade / Diante da humilhação a que te impuseste. / Eu te amo, porque suas águas barrentas / Seguem seu caminho fatalista / sem clamor ou desespero (...)”.

Fonte de Pesquisa:

- Boletim Só 10, de autoria do professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, Nº 02, de fevereiro de 2006.

- Jornal A Cidade, de 15 de maio de 1977.

FOTOS 

Foto datada de 1940, de banhistas nadando no Formigão. Dentre os jovens identificados encontram-se Bilú, Bicalho, Preguinho, Ivo Pinfildi e Galego

Era muito comum inúmeras pessoas nadarem no Formigão, como mostra esta foto de 1940. Dentre as várias brincadeiras da rapaziada, uma das preferidas era a guerra de barro

Foto do rio São Domingos no ano de 1950, entre as ruas Pará e Brasil, grande símbolo da cidade

Foto tirada do rio São Domingos, em 1951, da ponte da rua Maranhão, mostrando várias pessoas pescando. Era comum em épocas passadas a prática da pesca ao longo das águas do rio São Domingos, mesmo sendo poluídas

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.