O grande artista Benedito Calixto

Em 28 de abril de 1918, apenas 14 dias após a instalação do Município de Catanduva, chegava para tomar posse como 1º Vigário da Paróquia de São Domingos, o Padre Albino Alves da Cunha e Silva. Português com cerca de 36 anos, sério, falando meio enrolado, não agradou de imediato, tendo mesmo aqui muitos moradores indo reclamar ao Bispo, pedindo o retorno do Padre anterior. Foram acalmados pelo mesmo, que lhes teria dito: “Vocês não querem uma Igreja? Pois ele a construirá”. Na capelinha existente, naquela época, mal cabiam 60 pessoas e por isso é que todos pensavam na construção de uma igreja melhor.

Padre Albino levou essa empreitada adiante e a pedra fundamental foi benzida em 22 de junho de 1919. Graças a ajuda da população, ela foi construída e concluída, festivamente, em 1925. Está edificada em rico estilo romano modernizado, localizada ao centro de belo jardim magnificamente tratado e de ruas calçadas a ‘petit-pavet’ (calçamento português) formando lindos e variados desenhos. Na decoração do interior da Igreja, executada pelo grande pintor Benedito Calixto, encontram-se verdadeiras obras de arte.

O local onde foi construída a capela e depois a Igreja Matriz era chamada de Praça da Igreja. Pela Lei Nº 10, de 03 de junho de 1918, passou a ser chamada Praça São Domingos. Mais tarde, por volta de 1934, as duas quadras passaram a denominar-se Praça 09 de Julho, para, em 1973, a quadra onde está localizada a Igreja Matriz de São Domingos passou a ser denominada de Praça Monsenhor Albino, em 19 de setembro de 1973.

Telas de Benedito Calixto

Foi o Dr. Mergulhão Lobo, o primeiro Juiz de Direito desta comarca, que lembrou o chamado de Benedito Calixto para fazer para fazer as telas da Matriz e foi ele, Benedito Calixto, que indicou os pintores que colocaram as telas nos seus lugares e fizeram as restantes bonitas pinturas interiores e centrais. Era um velho italiano, chamado Arnaldo Colucci, viúvo, e dois dos seus filhos, dos seus 16 e 18 anos de idade. Para poder realizar o seu trabalho, esteve aqui em Catanduva em 1925 e, conversando com Padre Albino, anotou a encomenda de quadros de conteúdo bíblico. As telas foram pintadas em Itanhaém e, depois muito bem coladas nas paredes do templo. Das 19 telas nas paredes laterais, estão os 12 apóstolos, 02 evangelistas e 02 profetas, completadas por 01 de São João Batista (no batistério), 01 de São Paulo (na capela do Santíssimo),  e a maior, bem no centro do teto da Igreja, Nossa Senhora do Rosário, tendo a seus pés o nosso padroeiro, São Domingos de Gusmão e Santa Catarina de Sena. Durante vários anos, em uma das paredes da sacristia, ficara pendurado um quadro a quem não se dava muita atenção. Era, entretanto, um auto-retrato do famoso pintor, datado de 1923, ofertado ao Padre Albino pelo Embaixador Dr. José Carlos de Macedo Soares. Padre Sylvio, quando assumiu definitivamente a paróquia, percebendo a importância e valor daquele quadro, passou a guardá-lo em local apropriado.

Aquela Igreja Matriz, construída entre 1919 e 1925, logicamente, no correr dos anos, passou por várias pinturas externas e pequenas mudanças internas, como a troca de pisos, bancos, instalações elétricas e aqueles que, de certa forma, foram exigidas pelas diretrizes do Concílio Vaticano II, como a do presbitério com a retirada do altar-mor e algumas imagens e, também a retirada dos altares laterais dos confessionários sem, entretanto, modificar a estrutura do templo. Mas São Domingos continuou em destaque na devoção paroquial e da cidade, sempre lembrado com tríduos, missas, procissões com a imagem que, segundo a tradição, foi mandada esculpir em Monte Alto por Antônio Maximiano Rodrigues e as tradicionais quermesses.

Quanto ao prédio da Matriz, passou a integrar o Roteiro Turístico do Estado de São Paulo, desde 1965, por causa das suas 19 telas e 01 auto-retrato do famoso pintor Benedito Calixto, sendo esse, possivelmente, o 2º maior conjunto de obras desse artistas em um só local. E aqui não podemos nos esquecer do trabalho insistente do Padre Sylvio Fernando Ferreira junto às autoridades locais  e estaduais desde que aqui chegou, na restauração dessas telas que estão na Igreja desde 1925 e que só em 1995 foram realizadas, em conjunto da população com a Prefeitura Municipal de Catanduva (administração Dr. Carlos Eduardo de Oliveira Santos) e que em 1997 (administração Félix Sahão Júnior) foi a igreja Matriz de São Domingos declarada Patrimônio Histórico Municipal.

Biografia

Considerado um dos maiores expoentes da pintura brasileira do início do século XX, Benedito Calixto de Jesus nasceu em 14 de outubro de 1853, na cidade de Itanhaém, litoral Sul de São Paulo. Autodidata, começou seus primeiros esboços ainda criança, aos 8 anos. Aos 18 anos mudou-se para Santos onde tem um começo de vida difícil, chegando a pintar muros e placas de propaganda para sobreviver. Tempos depois, Calixto passou a se dedicar à pintura de paisagens nos tetos e paredes das mansões dos prósperos comerciantes da cidade.

A convite do irmão mais velho o artista foi morar em Brotas, interior de São Paulo, na época, próspera por sua produção de café. Por lá, realizou trabalhos de pintura como voluntário na igreja local e começou a pintar telas. Em 1877, foi para Itanhaém para casar-se com sua prima de segundo grau, Antônia Leopoldina de Araújo e, de volta a Brotas, continuou pintando paisagens das fazendas locais e retratos de barões do café. Em 1881, teve a sua primeira filha, Fantina e no final do mesmo ano a família decidiu morar em Santos. Na ocasião, Calixto fez a primeira exposição no salão do jornal Correio Paulistano, em São Paulo, com grande sucesso de crítica.

Em 1882 a sorte bateu em sua porta com um convite para realizar trabalhos de entalhe e pintura na parte interna do Teatro Guarany, em Santos, o que lhe rendeu homenagens e uma bolsa de estudos para se aprimorar em Paris, onde ficou por quase um ano, frequentando o ateliê do mestre Rafaelli e a Academia Julien. Na Europa pôde realizar várias exposições de sucesso e, de volta à Santos, trouxe na bagagem um equipamento fotográfico e tornou-se pioneiro, no Brasil, na arte de pintar a partir de fotografias.

Nos anos de 1886 e 87, respectivamente, nasceram seus filhos Sizenando e Pedrina. Em 1890, mudou-se para São Paulo. Sete anos depois volta para o litoral e vai morar em uma casa construída por ele mesmo, em São Vicente. Daí para frente não parou mais de trabalhar. Produziu obras importantes para vários museus, entre eles o do Ipiranga, em São Paulo; para inúmeras igrejas em todo o país; para associações, fundações, instituições, a exemplo da Bolsa Oficial do Café, em Santos, onde uma de suas principais obras A Fundação de Santos ocupa uma parede inteira do salão principal, além de outras duas que também têm como tema a cidade de Santos e o vitral do teto com alegoria para os Bandeirantes.

Durante toda a sua trajetória Benedito Calixto produziu aproximadamente 1700 obras, das quais 712 são catalogadas. Pintou marinhas, retratos, paisagens rurais, urbanas e obras religiosas. Estas últimas lhe renderam a Comenda de São Silvestre, outorgada pelo Papa Pio XI, em 1924.

Além da pintura se revelou como historiador, escritor e fotógrafo. Faleceu de infarto, no dia 31 de maio de 1927, em São Paulo, na casa de seu filho Sizenando, para onde tinha ido com a intenção de comprar material para terminar duas telas para a Catedral de Santos. Foi enterrado no cemitério do Paquetá, em jazigo perpétuo doado pela Prefeitura Municipal de Santos. Suas duas últimas obras são intituladas Noé e Melchisedech.

Fonte de Pesquisa:

 - Material pesquisado no Centro Cultural e Histórico Padre Albino

Fotos:

Durante vários anos, em uma das paredes da sacristia, ficara pendurado um quadro a quem não se dava muita atenção. Era, entretanto, um auto-retrato do famoso pintor, datado de 1923, ofertado ao Padre Albino pelo Embaixador Dr. José Carlos de Macedo Soares

Antiga capelinha existente onde hoje temos a Igreja Matriz de São Domingos. O antigo espaço era pequeno, abrigando, aproximadamente, 60 pessoas

Pinacoteca Benedito Calixto, localizada na cidade de Santos – SP, mantém uma exposição do pintor Benedito Calixto e biblioteca de livros de arte, no térreo, e o andar superior funciona como galeria de mostras temporárias (Foto: Prefeitura de Santos)

Padre Albino levou a empreitada da construção da Igreja Matriz adiante e a pedra fundamental foi benzida em 22 de junho de 1919. Graças a ajuda da população, ela foi construída e concluída, festivamente, em 1925

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.