O golpe

Ano de olimpíada é também ano de esquisitices. Principalmente nos esportes sem nenhuma tradição por estas bandas. Eu procuro acompanhar de tudo, mas tenho um olhar especial para alguns esportes de combate, principalmente o boxe, uma das minhas paixões. Os não aficionados mal percebem que existem outras modalidades. Além do boxe, tem judô, luta greco-romana, luta livre, esgrima, taekwondo e o karatê.

O boxe olímpico existe desde 1904. Os maiores ganhadores são os Estados Unidos e Cuba. No masculino, existem 10 categorias: mosca-ligeiro (até 49 kg), mosca (até 52 kg), galo (até 56 kg), leve (até 60 kg), médio-ligeiro (até 64 kg), meio-médio (até 69 kg), médio (até 75 kg), meio-pesado (até 81 kg), pesado (até 91 kg) e superpesado (acima de 91 kg), categoria inexistente no boxe profissional. No feminino são apenas três: mosca (até 51 kg), leve (até 60 kg) e meio-pesado (até 81 kg). Coloquei os pesos das categorias de propósito. Os estimados leitores neste momento devem estar se imaginando em qual categoria se enquadrariam. Da minha parte, eu nem preciso fazer muita conta.

Apesar de assistir todas as categorias, acompanho com maior atenção os mais pesados. O boxe olímpico deu ao mundo grandes campeões que também foram campeões no profissional. Para citar alguns: George Foreman (1949 – USA), que virou empresário do ramo de churrascos. O “baixinho” (1,82 metros) Joe Frazier (1944 – 2011 – USA), cujos métodos de treinamento inspiraram parte do filme “Rocky, um lutador” (1976), ganhador do Oscar de melhor filme no ano seguinte. Ele treinava subindo escadarias de um museu e usava como saco de pancadas peças de carne congelada de frigorífico. Teve ainda: Ray Mercer (1961 – USA), pugilista que começou tarde, aos 23 anos, quando servia ao exército, Wladimir Klitschko (1976 – Ucrânia), irmão caçula de outro campeão mundial dos pesados, Vitali Klitschko (1971 – Ucrânia). Uma curiosidade é que Vitali é prefeito de Kiev, capital da Ucrânia, e ambos pegaram em armas contra a invasão russa. Dois tricampeões olímpicos dos pesados não se profissionalizaram, os cubanos Teófilo Stevenson e Felix Savon.

No boxe olímpico, o respeito é um de seus princípios fundamentais. Os atletas sobem ao ringue, cumprimentam o árbitro, o outro atleta, cruzam o ringue e cumprimentam o treinador e a equipe do oponente. Quando anunciam o resultado, ainda que discordem, costumam aplaudir o vencedor. Outro detalhe importante é que o árbitro interrompe a luta quando um dos atletas está sem condições de se defender ou está com sua saúde em risco.

Sempre que eu escuto de um interlocutor sobre “porradas”, eu não aguento e corrijo: “o atleta não deu uma porrada! Isso é coisa de briga de rua. No boxe tem regras. Ele desferiu um golpe. Isso conta ponto”. Vale para o boxe, vale para a vida.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.