O fim do mistério

A maioria das pessoas quando indagadas sobre inteligência artificial, citam o ChatGPT, programa que, diante de uma pergunta, formula respostas com base do que tem na internet. O assunto é bem mais amplo do que isso. Nas últimas oito semanas, mais de 2000 novos programas de inteligência artificial foram lançados. Interessei-me pelo “ChefGPT”. Você lança no programa o que tem de ingredientes na sua despensa e a respectiva quantidade. Ele monta um prato e a receita compatível com o que você tem. Estudantes universitários farão a festa!

Muito se fala sobre a supressão de empregos por conta da atuação da máquina. No entanto, a população está envelhecendo. A mão de obra está escassa em diversos setores. Robôs já são as soluções para estas duas variáveis. Na Coréia do Sul, braços mecânicos fritam frango, fazem café, cozinham macarrão, servem sorvete e tiram chope da torneira. Nos Estados Unidos, há robôs que fazem pizza. Na França, testam robôs cozinheiros mais avançados. Os existentes, há mais de dez anos, tratam apenas dos ingredientes: liquidificam, ralam, fatiam, trituram, moem, emulsionam, cozinham e sovam massas. Também regulam a temperatura e o tempo de forno. Há tempos que existem os robôs domésticos. Como todas as novas tecnologias, ainda são caras. Mas logo estarão em todo lugar.

Uma nova tendência são os modelos que simulam conversas com figuras existentes, mortas ou de ficção. Dá para conversar com artistas, cantores, vultos históricos, heróis dos gibis e quem mais o cliente quiser. Com base no que existe a respeito do escolhido, o programa gera respostas às perguntas do bate-papo. Já estão disponíveis Napoleão Bonaparte, Tony Stark (o Homem de Ferro), Tom Brady (ex-marido da Gisele Bündchen) e extensa gama de opções. Já surgiram as variantes. Existem programas com namorados virtuais e até os que simulam conversas virtuais eróticas.

É inútil procurar parar ou controlar a pesquisa em inteligência artificial. Já tentaram com a internet e nunca deu certo. O ser humano, de uma maneira geral, não lida bem com limites. Prova disso é que embora ética e legalmente proibido, existem vários grupos ao redor do mundo tentando clonar seres humanos. Melhor seria discutir as questões éticas e legais que surgiram desde a popularização do tema. A inteligência artificial utiliza conteúdos protegidos por direitos autorais e dados sigilosos de pessoas. Existe ainda a questão do consumidor, que tem o direito de saber o que é original ou modificado. A discussão sobre estas questões está apenas começando.

Enquanto isso, não vejo a hora de pedir para o Ronald Golias me contar umas piadas. E de perguntar para o Machado de Assis se, afinal de contas, a Capitu traiu ou não o Bentinho. Tenho certeza que a resposta será melhor do que muito fim de novela.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.