O eterno “Gostar de Catanduva”
Neste ano de 2025, a coluna Contando História completará 17 anos de existência, onde tenho o prazer de estar à frente dela desde o ano de 2008. Me lembro como se fosse ontem: ainda cursava a graduação de História, estava no último ano, quando a coordenadora do curso, Dona Neusa Flosi, comentou em sala de aula que o Rodrigo Gabas tinha entrado em contato com a faculdade pedindo a indicação de algum aluno do curso para ser o curador da coluna.
Início
Sempre gostei muito de escrever e já estava envolvido diretamente com pesquisa desde o ano de 2005. Depois da fala de D. Neusa, entrei em contato com o Rodrigo, onde ele me apresentou a ideia da coluna, que era retratar, semanalmente, temas ligados à história de Catanduva e região. Achei a ideia totalmente interessante e oportuna, ainda mais em um momento em que, muitas vezes, somos tão ligados ao presente, ao imediatismo, que nos esquecemos da nossa origem, daquilo que nos forma enquanto sociedade, enquanto povo, enquanto ser humano.
Me foi solicitado que eu escrevesse algo nesse sentido e enviasse para ele dar uma olhada. Com muitas ideias na cabeça, me dirigi ao Museu Padre Albino, hoje Centro Cultural e Histórico Padre Albino, local que tenho, aliás, um carinho enorme desde meu início de caminhada, e conversando com o professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, juntamente com o professor Fernando Abdo Banhos, fiz minha primeira pesquisa para esta coluna: um texto com imagens sobre Luiza Lourenço da Cruz, a Comadre Luíza.
Encaminhado o texto e as imagens ao Rodrigo, iniciei os trabalhos na coluna em abril de 2008, sendo o primeiro artigo publicado sobre a Igreja Matriz de São Domingos, no mês de comemoração do aniversário de Catanduva.
De lá para cá foram mais de oitocentas publicações, uma infinidade de entrevistas com pessoas, um conhecimento adquirido de maneira linda e a percepção de que quanto mais aprendemos, mais temos a aprender. Percepção de que esta cidade teve, e ainda tem, o privilégio de contar com pessoas que querem seu progresso, seu desenvolvimento; contar com pessoas que se doaram para outros, sem se perguntar o que receberiam em troca; pessoas que acreditaram, em momentos que apenas mato viam pela frente, em inúmeras possibilidades; pessoas que dançaram o carnaval da rua Brasil, que cuidaram das mulheres e crianças quando os voluntários se dirigiram para a revolução em 1932; pessoas que questionaram, se rebelaram e, muitas vezes, nem sequer foram ouvidas para mudar aquilo que elas julgavam errado; pessoas que se doaram, que amaram, que transformaram um lugar pequeno, sem destaque, na nossa querida Catanduva, a eterna “cidade feitiço”.
Agradecimento
É nesse clima de percepção e relembranças de muitas pessoas que contribuíram para o crescimento de Catanduva que escrevo a coluna de hoje. Agradecimento aos proprietários do jornal, por acreditarem no meu trabalho; a toda a equipe de jornalismo, que sempre demonstrou uma parceria enorme de trabalho ao longo dos anos; agradecimento a todos àqueles que colaboram, direta ou indiretamente, às matérias, através de entrevistas, fotografias antigas, empréstimos de acevo, entre outros; e um agradecimento especial a todos os queridos leitores que acompanham esse trabalho que não digo que é meu, já que apenas transcrevo, reproduzo e ilustro com imagens, partículas de vida, de história, de vivências, tentando manter acesa a chama viva da História, pois sem ela não somos capazes de escrever o nosso futuro.
Cidade Feitiço
E já que foi citado o termo “cidade feitiço”, nada mais digno de relembrar as origens deste termo tão conhecido em Catanduva e região.
O slogan foi criado lá na década de 1940 pelo jornalista Nair de Freitas e é um marco histórico e simbólico para a cidade, lema pelo qual Catanduva é conhecida desde tempos anteriores.
O que vale destacar, porém, é que o primeiro registro impresso desse slogan é de autoria do professor e jornalista Geraldo Corrêa, que no início da década de 1940, indo lecionar na cidade de São Paulo, de lá escreveu um artigo publicado no jornal A Cidade, no dia 10 de fevereiro de 1943, intitulado “Gostar de Catanduva”, expressando a saudade que sentia desta terra feiticeira.
Gostar de Catanduva
Abaixo transcrevo ao artigo do professor Geraldo Corrêa, publicado em 10 de fevereiro de 1943, no jornal A Cidade.
“Estou aqui em São Paulo já há alguns dias, vivendo horas de intensa agitação, porque tudo aqui é agitado, é sacudido de um lado para o outro, como se o único sentido da existência humana fosse essa movimentação que caracteriza as grandes cidades americanas.
Mas, em que pese esta agitação que absorve, empolga, assoberba o homem do interior, sinto que essa minha Catanduva, aí distante de mim umas centenas de quilômetros, tem qualquer arte de berliques e berloques, por meio da qual prende uma criatura de maneira tal que o sujeito não pode muito tempo viver longe dela, a menos que queira morrer de saudade.
É um mal de que aqui sofrem todos os habitantes de Catanduva, mal que se agrava tanto mais em virtude dos constantes encontros com pessoas que aí residiram e, embora tenham deixado Catanduva há um punhado de tempo, não conseguem esquecer a “Cidade Feitiço”. A doença da saudade se agrava, então, porque há um sabor todo especial, desconhecido, no falar-se de Catanduva quando se está a tão grande distância.
E quando se trata de um homem de jornal, habituado, como eu, a tratar com todas as facetas, com todos os aspectos da vida de sua cidade, então esta permanência de alguns dias longe de Catanduva, esta possibilidade de falar de suas coisas e da sua gente é alguma coisa doce-amarga, triste-alegre, mais ou menos indefinível e misteriosa.
E é nesse instante que o homem do jornal, acostumado a escrever coisas com palavras secas, sem o enfeite das flores da retórica, sente-se com uma vontade louca de ser poeta ou de ser músico para escrever uma “Berceuse” perdida de lirismo, ou compor uma “Romanza” embriagada de carícias... “Berceuse” ou “Romanza” dedicada à sua inigualável Catanduva.”
Que este eterno “gostar de Catanduva” nos embale cada vez mais neste ano, sempre proporcionando uma sociedade mais humana, mais justa, mais igualitária, representando, fielmente, o lema “Catanduva Cidade Feitiço”.
Fonte de Pesquisa:
- Artigo publicado no jornal A Cidade, de 10 de fevereiro de 1943, de autoria do jornalista e professor Geraldo Corrêa;
- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino.
Foto: Em 2025, a coluna Contando História completará 17 anos de existência, com mais de 800 artigos publicados, sempre aos domingos. Nesta foto, este colunista, Thiago Baccanelli, realizando pesquisas na hemeroteca do Centro Cultural e Histórico Padre Albino no ano de 2013.
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