O dia da mulher

O modelo de minoridade feminina ainda persiste, e desde que o dia 8 de março foi instituído uma narrativa masculina continua a não considerar que existir para a sociedade não necessariamente significa competir ou tirar o lugar de alguém, mas justamente estabelecer diálogo e sobretudo para a mulher poder dizer sobre si e suas necessidades não sendo vista somente pelo olhar dos homens, mas pelo seu próprio olhar.

Numa sociedade onde cada vez mais a mulher deseja e necessita estar no mercado de trabalho tendo muitas vezes uma renda mensal que sustenta sua família, escutamos muitas lamentarem que depois de terem filhos e amamentar a divisão de tarefas fica quase que integralmente para elas o que nos sugere pensar que os modelos que ainda funcionam persistem nos padrões de um homem como único provedor.

É comum escutarmos mulheres desistindo de ter filhos e quando os tem, recuam quando o assunto é pensar no segundo filho diante da sobrecarga que recai sobre elas.

Ter um dia das mulheres foi estabelecido a partir de uma luta que serviu para ela ser lembrada e olhada diante de uma não existência social e de melhores condições de vida e trabalho.

As mulheres tem filhos, amamentam, trabalham fora e dentro de casa. Elas estudam, bordam, desenham, cozinham, escrevem, projetam, cantam, escutam, analisam, administram, julgam, correm, pedalam, lutam, dirigem, entrevistam, educam, medicam, executam, operam, pintam, conciliam seus lares como ninguém e continuam sendo vistas como frágeis por quem insiste olha-las de forma pejorativa.

Oito de março é mais do que um dia para comemorar conquistas, deveria servir para refletirmos o olhar dos homens sobre sua própria condição. É muito mais do que se modificar para ser vista, é ser aceita sem julgamentos.

Penso que algumas mulheres pleiteiam um marido, companheiro, filho, professor, patrão, amigo, primo, tio, pai, irmão que antes de qualquer coisa consiga se olhar para entender o que as mulheres desejam e que consiga se colocar no lugar delas para sentir a sobrecarga que tanto reclamam quando o assunto é divisão de tarefas, salário, desigualdade, espaço no trabalho, inclusão, escuta.

Muito mais do que dar parabéns, é entender do que estamos falando e contribuir para uma sociedade mais inclusiva e sem barreiras determinadas pelo sexo.

O dia 8 de março é muito mais, e se ainda não é, deveria servir para todos entenderem seu próprio lugar em nossa sociedade a ponto de modificar os modelos que ainda não consideram os dois, homens e mulheres.

Música “Qualquer Coisa” com Caetano Veloso.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Edgar Maluf @edgar.maluf ©