O Corvo: após 30 anos, filme que virou tragédia tem remake

Em exibição desde quinta-feira no CineX, O Corvo não é bem um super-herói, embora vindo das HQs. Ele é um anti-herói trágico, mais ligado ao terror gótico do que a fantasia. O filme foi baseada nos quadrinhos de James O’Barr, que por sua vez foi inspirado livremente no poema clássico do escritor Edgar Alan Poe,

Sua primeira adaptação para o cinema aconteceu há exatos 30 anos, e não foi uma estreia pouco trágica, tanto para o personagem quanto para o ator que o viveu e morreu no papel: Brandon Lee, filho do mítico ator e lutador de kung Fu, Bruce Lee. Brandon morreu num acidente com uma arma em pleno set, antes de terminadas as filmagens, o que obrigou que cenas extras fossem feitas com seu dublê. Com apenas 28 anos, Brandon Lee compartilhou com o pai uma morte precoce.

No entanto, essa não foi a única adaptação do personagem: vieram ainda O Corvo: Cidade dos Anjos (1996) e O Corvo: Vingança Maldita (2005), além da série The Crow: Starway to Heaven (1998/99) – nenhuma teve o mesmo impacto.

Dessa vez o papel ficou com o sueco Bill Skarsgard (It, a Coisa) como Eric Draven, que para tentar salvar a vida de sua amada Shelley (a cantora britânica FKA Twigs), embarca numa jornada de vingança além da vida e da morte. Skarsgard assume o trágico herói gótico no filme de Rupert Sanders, que diz ter feito um filme “para as gerações atuais”, com muita violência gráfica, principalmente numa cena clímax, na ópera.

Como no poema de Poe e na HQ, O Corvo possui uma trama marcada pela ideia da morte (como se o Corvo fosse uma espécie de arauto dela). Partindo do assassinato do casal, temos um enredo clássico de vingança e redenção.

Skarsgard, que já havia mostrado talento em interpretar personagens bizarros e mortais, como o maligno palhaço Pennywise em It: A Coisa e sua sequência, dessa vez tenta transmitir toda a dor que atormenta Eric Raven em seu amor por Shelly.

Seu antagonista é Vincent Roeg (Danny Huston), vilão que, ao trocar sua permanência entre os vivos, envia para o inferno todas as almas inocentes que puder. Ele é o alvo da vingança de Eric, para tentar salvar Shelly.

Um dos pontos altos do filme é a direção de arte, especialmente na ambientação do mundo intermediário em que Eric encontra Kronos (o ator francês Sami Bouajila) que o orienta em sua jornada de volta do túmulo, na intersecção de sombrias linhas férreas e aves agourentas, como são os corvos. O filme possui um gancho que insinua uma continuação, o que só vai ser resolvido se o filme no mínimo, pagar seus custos.

Autor

Sid Castro
É escritor e colunista de O Regional.