O Brasil pode ser melhor

Em geral, a sociedade brasileira está acostumada com o “mais ou menos”. O próprio “jeitinho brasileiro”, por ser fruto de arremedos e gambiarras, por mais inteligentes que sejam, constantemente demonstra ser apenas funcional para a ocasião a que se presta: não é planejado, não é arquitetado e, por isto, não é esmerado. Nossa maneira de ver e fazer as coisas acaba sendo prática e momentânea, sem a preocupação civilizada de ser excelente e duradoura. É o espírito das ruas malandras: fazer o suficiente para dar certo enquanto alguém estiver olhando, “para inglês ver”. Depois, que venha o dilúvio! Tanto faz se as coisas quebrarem, se as instituições não funcionarem, se tudo se desmanchar. Desde que tudo funcione no átimo em que observadores observarem e fiscais fiscalizarem, nos damos por satisfeitos.

Este espírito do “mais ou menos”, da mediocridade orgânica e difusa, é generalizado: nos indivíduos, nas famílias, em tudo que é lugar -- “nas escolas, nas ruas, campos, construções, caminhando e cantando e seguindo a canção” de flautistas de Hamelin disfarçados de profissionais de todas as profissões, de clérigos de todas as religiões, de artistas de todas as vocações, de políticos de todas as direções, etc. Somos um povo conduzido ao matadouro espiritual por uma manada de medíocres incensados, que nos governam dos palácios, dos palcos, dos templos, etc. Eles fazem baixa cultura, baixa ciência, baixa religião, fazem baixezas e baixarias. Tudo laxa e desmazeladamente. E nós seguimos no lastro, no vácuo do seu nada apresentado como se grande coisa fosse.

Há mais de um século as coisas estão assim no Brasil. A Nação e seu povo se habituaram ao mediano, ao médio, ao meão, ao razoável, ao regular, ao comum, ao normal, ao habitual, ao modesto, ao inferior, ao mau, ao péssimo, ao ruim, ao horrível, ao ordinário, ao fraco, ao relés, ao vulgar, ao rasteiro, ao banal, ao insignificante, ao inexpressivo, ao desinteressante, ao desimportante, ao trivial, ao pobre, ao passável, ao desprezível, ao ignóbil, enfim, ao “tanto faz” mais mesquinho.

Mas, podemos fazer melhor. Podemos cruzar a linha do “sempre foi assim” para o outro lado -- o lado da excelência, o lado da radicalidade aperfeiçoadora, o lado onde o superficial cede lugar ao essencial, o lado do “será assim!”. Podemos instituir projetos de longo prazo, pacientes e empenhados. Podemos constituir instituições permanentes, modeladas para serem melhores e, então, melhorarem as aspirações obradoras da nacionalidade. Podemos ir muito mais além dos improvisos e paliativos. Podemos estabelecer o tantas vezes e por tantos sonhado Império Tropical, de Vieira e Darcy, uma potência difusora de prosperidade equânime e de liberdade congregadora. Somos um povo que ameniza polaridades e é capaz de fundir antagonismos até torná-los harmônicos. Hoje, esta qualidade funciona como vício, criando divergências. Se trabalharmos muito, funcionará como virtude, criando convergência: a virtude da unidade na diversidade.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor