O Brasil lá fora

De uns 20 anos para cá, escuto frequentemente pessoas dizendo que gostariam de morar no exterior. O tema é recorrente. As justificativas são bem variadas. As mais citadas são de que padecemos da falta de bons empregos e boas oportunidades, baixa qualidade de vida, baixos salários, violência, instabilidade econômica do país, falta de perspectiva financeira, derrota na eleição, baixa qualidade da educação, leis que não funcionam e viver aventuras.

O Ministério das Relações Exteriores divulgou um relatório sobre os brasileiros que vivem no exterior. O número ultrapassa 4,6 milhões. As maiores comunidades no exterior estão localizadas nos Estados Unidos (1,9 milhões), Portugal (360 mil), Paraguai (254 mil), Reino Unido (220 mil) e Japão (207 mil). Os Estados Unidos, apesar do idioma inglês, há muito tempo é a “Terra Prometida” para o mundo inteiro. Portugal atrai principalmente pelo idioma. O Paraguai atrai pela proximidade e pelo baixo custo de vida. O Reino Unido é um lugar extremamente organizado. O Japão recebe brasileiros em sua quase totalidade descendentes dos imigrantes. São os nissei (filhos de japoneses), sansei (netos), yonsei (bisnetos) e gosseis (trinetos).

A cidade estrangeira que mais tem habitantes brasileiros é Nova Iorque. São 500 mil. Segue com Boston (390 mil), Miami (295 mil), Lisboa (250 mil) e Londres (190 mil). Os dados são dos brasileiros registrados nos consulados destas cidades. Significa que vivem na cidade e na região. Quando pensamos em continentes, 48% dos brasileiros estão na América do Norte. 24% estão na Europa. 17% na América do Sul. 6% estão na Ásia e 2% no Oriente Médio. Por outro lado, Coreia do Norte, São Cristóvão e Nevis e Micronésia tem apenas um brasileiro cada. Três são os países que não possuem nenhum brasileiro registrado: Afeganistão, Líbia e São Vicente e Granadinas.

Em relação aos que emigram, na maioria das vezes, não há conhecimento suficiente sobre o país desejado. Costumam enxergar só o que julgam serem as vantagens de se morar fora do Brasil e subestimam as desvantagens e as mazelas. O idioma é, pelo menos no início, uma barreira. Mesmo depois de 30 anos, é possível um nativo perceber quem é estrangeiro. O clima é outra barreira. Tenho a impressão que o frio do “norte” é diferente do frio daqui. É muito difícil também criar laços com os nativos. Não tem o SUS e tudo é pago em relação à saúde. Os salários, apesar de serem melhores que os daqui, costumam ser baixos em relação ao custo de vida.

Diante do exposto, não tiro da cabeça uma impressão: seja onde for, independente do quão fluente no idioma local possamos ser, não importa o quanto dinheiro possua, você sempre será um estrangeiro. Pensando bem, é melhor ficar por aqui. Pelo menos os “micróbios” são de casa.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.