Num mundo inclusivo, pessoas com deficiência vão às compras sozinhas

Sempre que vamos ao supermercado, a uma loja de roupas, calçados e afins, quando encontramos alguma pessoa com deficiência é comum vê-la acompanhada, seja de um familiar, um cuidador. E isso acontece não somente por faltar acessibilidade nas ruas, calçadas e entrada de lojas, mas porque o varejo ainda não está preparado para atender as pessoas com deficiência quando elas estão sozinhas.

A independência de uma pessoa com deficiência vai além da possibilidade de encontrar rampas, piso tátil, caixas de atendimento prioritário. A inclusão requer conhecimento, requer mesmo tratamento e capacitação para que o comportamento das pessoas seja respeitoso e dedicado ao público PCD.

Sabemos que muitas pessoas com deficiência deixam de fazer essas atividades cotidianas justamente pela dificuldade que encontram. Quem não gosta de ir ao shopping e comprar roupas novas? Para o público PCD, esse passeio com direito a comprinhas nem sempre é prazeroso.

Em uma pesquisa realizada no ano passado pela startup Inclue - que oferece treinamento para lojas e agendamento de atendimento para pessoas com deficiência e mais de 60 anos - ficou apontado que 67,2% dos entrevistados indicaram falta de capacitação e acessibilidade no varejo. Do total, outros 26,7% estiveram satisfeitos com os atendimentos recebidos e 6% não opinaram. O levantamento foi realizado com 116 pessoas com algum tipo de deficiência ou acompanhantes que sinalizaram a experiência de consumo em estabelecimentos comerciais como lojas de material de construção, vestuário, calçados, supermercados, joalherias, lojas de shopping, de eletrodomésticos, restaurantes, perfumarias, óticas, pizzaria.

E as experiências relatadas foram assustadoras. Comentários com exemplos claros de capacitismo. Podemos citar alguns deles: “O vendedor foi até atencioso, mas me questionou por que iria comprar uma TV grande se não enxergo”.

Ainda há em nossa volta uma bolha que se preenche apenas com os fatores vistos por muitos como o "normal" excluindo todos e tudo aquilo que esteja fora dos "padrões" observados desde os primórdios. Essa tendência comportamental de desfavorecer determinados grupos de pessoas, de priorizar outros tem sido reduzida, combatida, no entanto, há muito a evoluir. Quando falamos em pessoas com deficiência, podemos elencar aqui uma série de situações que exemplificam. E proporcionar condições igualitárias tem sido o grande desafio e, em boa parte dele, cumprido não pelo poder público, mas pelo terceiro setor e o privado. Trabalhar a inclusão social parte muito mais daqueles que possuem uma pessoa com deficiência na família ou que convive com alguma necessidade específica. São essas pessoas, que vivem na pele todas as dificuldades enfrentadas que mais batalham pelo cumprimento dos seus direitos e pela oportunidade de serem tratados como iguais. E é por isso, que atualmente vemos tantas marcas, empresas engajadas em quebrar esse paradigma.

Enquanto ainda é mínima a porcentagem de pessoas com deficiência no setor público, enquanto ainda é ínfima a escolha de profissionais com deficiência em grandes empresas ou setores, as pessoas com deficiência mostram que até mesmo com essas situações, com essa exclusão, elas são capazes de lidar (não deveria ter de provar), e fazem a transformação por conta própria.

Sonny Pólito

Pessoa com deficiência visual, sócio fundador da Inclue e integrante do Movimento Bengala Verde

Rodrigo Piris

Diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista, sócio fundador da Inclue e fundador do Movimento Queremos Ética

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Artigos de colaboradores e leitores de O Regional.