Neruda
Cine Cult
Neruda
Chile, 1948. A recém-aprovada Lei Maldita do governo Videla caça militantes considerados comunistas, criando um clima de terror no país andino. O alvo da vez será o poeta Pablo Neruda (Luis Gnecco), à época senador da República. Procurado pela polícia, ele se refugia nas montanhas e é incansavelmente perseguido pelo inspetor Óscar Peluchonneau (Gael Garcia Bernal).
Com uma mistura interessante de drama e policial, esse filme chileno com fundo biográfico, coproduzido na Argentina, França, Espanha e EUA concorreu ao Globo de Ouro de fita estrangeira, mas ficou fora do Oscar 2017. Gosto da história e de seu clima noir, que acompanha a fuga do poeta Pablo Neruda pelos Andes em 1948, quando se refugiu em uma cabana no gelo, perseguido por um chefe de polícia categórico, Peluchonneau.
É baseado num momento marcante da vida de Neruda, quando senador da República e virou alvo político durante o decreto da Lei Maldita, do presidente Gabriel Videla, que exerceu o cargo de 1948 a 1952 e depois com o golpe militar de Pinochet nos anos 70 virou conselheiro de Estado. A lei perseguia e prendia comunistas, e Neruda era apontado como um dos mais enfronhados no partido de esquerda.
O filme opta por uma narração em off para contar essa história intrigante, dividindo Neruda sob duas camadas: a do homem popular, adorado pelo povo, atencioso com os mais pobres, mas também como um mulherengo e beberrão, frequentador de bordéis (numa cena ele participa de uma orgia). E tem uma terceira parte, da metade para o final, quando Neruda parte para o refúgio nos Andes, numa trama de detetive e de caçada, funcionando como um filme de ação.
Conta com uma fotografia escura, com longos diálogos (bem inteligentes) e um clima de filme noir. A maquiagem/caracterização é boa, especialmente do ator Luis Gnecco, que ficou calvo, barrigudo e com andar e trejeitos de Neruda. O mexicano Gael Garcia Bernal, que já trabalhou diversas ocasiões com o cineasta Pablo Larraín, está bem como o detetive com fúria nos olhos.
Esse 'Neruda, de 2016, saiu dois anos depois de um outro filme chileno com mesma história e título ('Neruda', de 2014). Não vi o anterior, de Manuel Basoalto, porém o de Larraín é estilizado, autêntico e vigoroso, e carrega as características do diretor, que fez antes 'Tony Manero', 'No' e 'O clube' (o meu preferido dele) – e que depois faria duas biografias longe do Chile, 'Jackie' e 'Spencer', respectivamente sobre Jacqueline Kennedy e Princesa Diana, em que as atrizes foram indicadas ao Oscar (Natalie Portman e Kristen Stewart). Aliás, Larraín tem uma mão adequada para dirigir bons atores. 'Neruda' é um de seus trabalhos mais pessoais. Ele volta a contar uma história verdadeira recorrendo a fantasmas insidiosos de seu país, como fez em 'No' e 'Tony Manero' (no caso a ditadura, as torturas e as leis extremistas).
Neruda (Idem). Chile/Argentina/França/Espanha/EUA, 2016, 107 minutos. Drama/Policial. Colorido. Dirigido por Pablo Larraín. Distribuição: Imovision
Cine Especial
Medo
Nicole (Reese Whiterspoon) tem 16 anos, é de uma família de classe média americana e mora com os pais e o irmão em uma casa à beira do lago em Seatlle. A rotina deles é abalada quando Nicole começa a namorar um rapaz que conhecera numa balada, David (Mark Wahlberg). Isso porque David aos poucos se torna violento, a ponto de colocar a família dela em risco.
Fez inesperado sucesso nos cinemas em 1996 essa fita independente de suspense derivada de outros suspenses psicológicos dos anos 80 e que abriria portas para muitos nos anos 2000. Tem clima a ponto de fazer o público roer as unhas, serve como entretenimento passageiro e trazia Mark Wahlberg em início de carreira, como um vilão amedrontador – anos antes Wahlberg era modelo (posou como garoto propaganda das cuecas Calvin Klein) e rapper, depois se consolidou como ator e chegou a ser indicado ao Oscar (por 'Os infiltrados'). Aqui foi seu terceiro filme. O mesmo se deu com Reese Whiterspoon, novinha, em início de carreira – ela começou como atriz aos 15 anos, em 'No mundo da lua', depois ganharia Oscar e Globo de Ouro. Os dois são charmosos e têm química, porém o primeiro amor da garota vira um pesadelo infernal...
É um suspense sobre ''as aparências enganam”, até serve como uma moral, de tomar cuidado com quem mal conhecemos e já nos relacionamos. A história cresce, o personagem de boa pinta de Wahlberg dá espaço à psicopatia, gerando medo e tensão na família da personagem, até culminar num desfecho amedrontador (a cena final, na casa do lago em Seattle, lembra 'Sob o domínio do medo', com Dustin Hoffman na primeira versão, de 1971, e com James Marsden no remake de 2011).
William Petersen e Amy Brenneman interpretam os pais da personagem de Reese e ganham destaque na história apenas no fim. Um bom thriller sedutor sobre obsessão e crime, do diretor James Foley, de 'Jovens sem rumo' (1984), 'Caminhos violentos' (1986), 'Quem é esta garota!' (1987), 'O sucesso a qualquer preço' (1992) e 'O segredo' (1996).
Lançado em bluray pela Universal Pictures, em parceria com a Classicline (disco sem extras, somente o filme em alta resolução).
Medo (Fear). EUA, 1996, 98 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por James Foley. Distribuição: Universal Pictures
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