Natal é solidariedade

Há quem diga que o Natal de hoje perdeu seu encanto e a sua poesia como uma das datas de celebração cristã mais importantes no mundo ocidental. De fato, isso é notório a partir do momento em que a mercantilização do espírito natalino passou a instigar o consumismo, principalmente através da televisão com maciças campanhas publicitárias, com algumas exceções, como é o comercial da Coca-Cola com os seus caminhões iluminados desfilando pelas cidades ou a linda mensagem do Banco Itaú, escrita por Nizan Guanaes, interpretada pela atriz Fernanda Montenegro ao som da música tema do filme Forrest Gump. A propaganda na TV é tão avassaladora e, agora também nas redes sociais, que é impossível se manter incólume e não ficar tentado a comprar alguma coisa. Esse Natal do consumismo e do mercantilismo que distorceu visceralmente o singelo sentido do envio de cartões com mensagens alusivas, como também a troca de lembranças (não confundir com presentes) e que transvestiu o Papai Noel, tornando-o um vendedor de produtos de consumo para as crianças, seguramente desvirtuado, não é aquele que habita o coração dos mais vividos, nem tampouco das crianças pobres dos subúrbios e das favelas; como também não é o Natal daquelas crianças que, distantes dos pais, convivem em abrigos, orfanatos e casas do gênero. Essas crianças, é evidente, também sonham com presentes, possivelmente mais modestos, limitando-se a um caminhãozinho, uma boneca, uma bola, um par de tênis ou até mesmo uma roupa nova, mas talvez o sonho maior é ter alguém para poder chamar de pai e de mãe, algo que fica cada vez mais distante à medida que o tempo passa e elas crescem. No Brasil, são mais de 47 mil crianças e adolescentes vivendo em abrigos e, dessas, apenas 1/3 normalmente são adotadas, segundo dados do Observatório do Terceiro Setor, citando como fonte o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Para essas crianças, o Natal alardeado na televisão e na vitrine das lojas, talvez não passe de uma ilusão, um sonho ou uma quimera. Então, nesse Natal se você quiser dar um presente diferenciado a uma criança pobre, não importa onde ela esteja, dê esperança e oportunidade para que ela possa conseguir uma formação profissional, que passa necessariamente pela educação que, sem duvida, é o que mais falta nesse país. Assim, você não só estará comungando do verdadeiro espírito do Natal e fazendo sorrir o seu coração, mas o que é mais importante - mudando a vida e quem sabe o destino dessa criança. E, isso tem nome - solidariedade que não é diferente dos dizeres bíblicos - amar o próximo como a ti mesmo. Como escreveu Paulo Vinicius Coelho, Folha de S. Paulo, Caderno Copa 22, pg. 5, 23/11.2022, “Conhecimento é a única coisa que aumenta quando você divide.” Feliz Natal!

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.