Natal – de Jesus e do Papai Noel

Todos os anos o menino pobre, filho de uma mãe virgem e de um pai carpinteiro, ambos escolhidos pelo plano divino, que nasceu numa humilde manjedoura lá pelas bandas do oriente médio, faz com que o mundo ocidental comemore o seu aniversário como nenhum outro no universo. A data escolhida, 25 de dezembro, que dizem não ser a correta, é celebrada por 2.18 bilhões de cristãos existentes no mundo, o que corresponde a aproximadamente 31% da população do planeta terra. É muita gente celebrando o nascimento daquele que, além de outros inúmeros e milhares exemplos, se notabilizou por dar o verdadeiro e pleno sentido ao vocábulo amor, sem contar que, a partir dele teve início um novo calendário. Precisa mais? O Natal é tão emblemático e a grandiosidade da mensagem deixada pelo aniversariante é tão superlativa que consegue enternecer, no sentido bíblico da palavra,  o coração dos mais insensíveis; consegue tornar ternos, fraternos e amáveis, pessoas que, distantes, há muito não se falavam; consegue sensibilizar os adultos a oferecer uma lembrança a uma criança, ainda que seja uma simples bola ou uma boneca de pano; consegue fazer com que voluntários comecem de manhã ou até mesmo muito antes preparando a ceia que irão servir pessoalmente  para os desprovidos de tudo, principalmente moradores de rua numa noite em que muitos brindam e se fartam; consegue congestionar a capacidade das torres de celulares, em todos os cantos do planeta,  tal as milhares e  milhões de ligações e mensagens pelos aplicativos whatsapp, instagram, facebook e outros; consegue inspirar as composições de músicas e jingles cuja melodia, algumas seculares,  outras contemporâneas, estão gravadas na memória e permanecem eternizadas. Quem não se lembra do jingle do extinto banco Nacional ... quero ver você não chorar....; da música "Happy Xmas (War is Over)" do cantor e compositor John Lennon, lançada em 1971, esculhambada por conta e obra da cantora Simone e, ainda, da música Jingle Bells, escrita e composta em 1857, por James Lord Pierpont, na Georgia, dentre outras? Nenhuma outra data consegue mobilizar e sensibilizar tanto e em todos os sentidos como o Natal.   Entretanto, esse mesmo Natal que se notabiliza pelo sentido cristão, humano, solidário e festivo, também tem outro lado e aí é que, um outro personagem também gestado no seio da igreja, mas distorcido dos seus princípios hoje é o centro das atenções. Trata-se do Papai Noel (embora nome próprio, deveria ser escrito em minúsculo), que teve origem com São Nicolau, um bispo católico do século IV que viveu na cidade de Mira, onde atualmente é a Turquia. Ele é lembrado como um homem bondoso que presenteava as crianças no dia de seu aniversário, 6 de dezembro. Fato é que, em 1920, a Coca-Cola começou a fazer os seus primeiros anúncios voltados para o período do Natal inspirado na figura desse Santo. As propagandas eram feitas em revistas de menor audiência. Com o passar dos anos, a marca cresceu vertiginosamente. Era hora de fazer propagandas mais elaboradas. Foi quando então a Coca-Cola contratou o artista Haddon Sundblom, que criou a figura do bom velhinho tal como é visto até os dias de hoje no mundo. O comércio aproveitou o embalo sedimentado nessa figura mítica e passou a explorar o momento de festa para fazer a sua própria fe$ta, promovendo produtos e induzindo o consumo desenfreado de presentes voltados a essa data festiva. Assim, o Natal acabou perdendo o seu verdadeiro espirito para se tornar uma verdadeira festa do mercantilismo, onde o aniversariante acabou perdendo espaço para o velhinho de barbas brancas criado pela Coca-Cola. Esse Natal do consumismo e do mercantilismo de hoje, tendo o Papai Noel como personagem central para alavancar vendas de produtos de consumo, distorceu e desvirtuou visceralmente o real sentido da celebração do nascimento daquele que, ungido pela luz divina, teve a missão de ser o Salvador do mundo, no sentido literal da palavra. Nesse cenário, cada um de nós pode escolher celebrar o Natal como quiser – com harmonia e paz, confraternizando, dando apenas um singelo abraço, enviando uma mensagem, entregando um modesto cartão de natal, fazendo um simples telefonema, como pode também deixar-se levar pela catarse do consumismo e fazer do cartão de crédito um instrumento de festa para os lojistas ou para os sites de compras. A opção é de cada um e o resto da história todos conhecem!

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.