Nashville

Nashville, capital do Tennessee, é a terra da música country. Diversos personagens se cruzam durante um megaevento musical que irá chacoalhar os habitantes locais e a mídia nacional.

Drama com números musicais, dirigido pelo notório cineasta Robert Altman, com participação de dezenas de astros e estrelas premiados, esse é um filme-mosaico icônico da Nova Hollywood, período em que Hollywood se reinventava com temas originais e um novo modo de produção de cinema autoral. A política aparece como pano de fundo, e na época os EUA eram presididos por Gerald Ford, num momento delicado com inflação alta, desemprego e recessão econômica, logo após o conturbado mandato de Nixon – o filme se passa durante as eleições, num estado tomado pelo Partido Republicano, e os músicos que cantam na capital são ludibriados a tocar em comícios políticos. A história é uma teia de situações envolvendo 24 personagens: Ronee Blakley é uma cantora de prestígio que chega a Nashville, tem um surto e fica na cadeira de rodas em recuperação; Henry Gibson é um cantor lendário retomando as atividades; Timothy Brown é um cantor negro que vem alcançando o estrelato; Geraldine Page, uma repórter da BBC cobrindo o festival de música da cidade; Scott Glenn, um jovem oficial do Exército; Keith Carradine, um cantor mulherengo (ele interpreta a música composta por ele, ‘I’m easy’, ganhadora do Oscar); Michael Murphy, um produtor de TV; Ned Beatty, um político, casado com a personagem de Lily Tomlin, uma mãe dedicada ao filho surdo, que se comunica em Libras e canta no coral gospel da igreja; Shelley Duvall, uma jovem que perambula com vários homens pelas apresentações; Gwen Welles é uma cantora tímida forçada a ficar nua no palco; Cristina Raines, uma cantora engajada que se recusa a tocar num comício republicano por ser filiada aos Democratas; Barbara Harris, uma cantora desajeitada que vive sob efeitos do álcool e nunca tem chance de se apresentar; Jeff Goldblum, um rapaz excêntrico que faz mágicas num bar; Karen Black, uma cantora sedutora. Todas essas figuras, com seus dramas, dilemas e convicções, passam pela história durante alguns dias do festival. O drama conta com números musicais, mas não é um musical comum - o elenco não dança nem canta na tela no meio da história, e sim em palcos ou estúdio de gravação. São muitas músicas inteiras que tocam – num determinado momento, quatro canções são encadeadas, uma atrás da outra. Como é a capital da música, palcos são armados em todos os lugares, como numa corrida de F1, num barco, nos bares country e em igrejas. A música é a vida da cidade e que gera emprega e movimenta a economia local.

Altman conta que o filme foi inspirado nos diários de uma jovem jornalista que percorreu Nashville nos anos 70 e registrou o dia a dia da movimentada cidade numa época de eleição – e parte do que estava nas páginas ele trouxe na tela, como o trânsito caótico, a violência, a política, o cenário da música country/folk etc. É um microcosmo detalhado da sociedade americano setentista, envolvendo temas multilaterais. Julie Christie e Elliot Gould interpretam eles mesmos, e o filme conta com outras participações rápidas, de Keenan Wynn, Barbara Baxley, Allen Garfield e Bert Remsen.

Ganhou o Oscar de canção e foi indicado a outros quatro Oscars – Melhor filme, diretor e atrizes coadjuvantes (Lily e Ronee).

Um bom filme para os experimentados na linguagem da Nova Hollywood e que curtem musicais – a metragem é bem longa, são 160 minutos. Disponível em DVD em duas versões - pela Paramount Pictures, lançado em 2016, e no box da Versátil ‘Altman e a Nova Hollywood’, de 2023, contendo dois outros filmes dele, ‘Jogando com a sorte’ (1974) e ‘James Dean: O mito sobrevive’ (1982).

Nashville (Idem). EUA, 1975, 160 minutos. Drama/Musical. Colorido. Dirigido por Robert Altman. Distribuição: Paramount Pictures (DVD de 2016) e Versátil Home Video (DVD no Box, de 2023)

Autor

Felipe Brida
Jornalista e Crítico de Cinema. Professor de Comunicação e Artes no Imes, Fatec e Senac Catanduva