Nas telas dos cinemas de Catanduva

No último dia 19, comemorou-se o Dia do Cinema Brasileiro, em celebração aos grandes progressos que esta arte realizou ao longo dos anos.

A data foi escolhida porque nela se deu uma das primeiras gravações de nosso país, mais especificamente do Rio de Janeiro, no ano de 1898, pelo cinegrafista Afonso Segreto, que vinha da França a bordo do navio Brèsil. O filme levou o nome de Vista da baía de Guanabara.

A primeira exibição de cinema que se deu no Brasil somente aconteceu em 08 de julho de 1896, na rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. Um ano depois, já existia no Rio uma sala fixa de cinema, o Salão de Novidades Paris, de Paschoal Segreto.

O cinema em Catanduva

A história dos cinemas em Catanduva começou quando esta ainda era chamada de Vila Adolfo, e na esquina das ruas Brasil com Paraíba (onde hoje se tem o Banco Santander) existia o Central Cinema, de propriedade do Sr. João Spanazzi.

Eram exibidos neste cinema filmes mudos, sendo acompanhados de músicos que ao vivo faziam a trilha sonora.

O prédio não servia apenas para a apresentação de filmes, mas utilizava-se para a realização de vários eventos, como por exemplo, foi lá que se deu a fundação do Clube Recreativo Sete de Setembro no ano de 1917.

João Spanazzi, que além de proprietário era construtor, ergueu posteriormente uma casa na rua Brasil em frente à Estação Ferroviária, que depois de uns anos veio a abrigar o Ideal Cinema e Bar, passando mais tarde a denominar-se Central Cinema, de propriedade de Ângelo Coltro. Com o tempo, este cinema acabou virando uma sociedade que se denominava Empresa Brandão/Pellegrino, que depois acabou sendo somente de propriedade de Ângelo Pellegrino.

Em 1926 já existia o Cine Teatro São Domingos, que se encontrava na rua Alagoas (Praça da República, onde hoje está localizado o Banco Bradesco), de propriedade de Mário Degani Filho, que por conseqüência do suicídio de sua filha colocou o estabelecimento à venda.

De imediato, o Sr. Ângelo Pellegrino se interessou pela venda, mas como era concorrente do Sr. Mário, este não quis vendê-lo para ele.

Porém, dando um golpe de mestre, um amigo de Pellegrino, o Costa, antigo dono do Chalé Vale Quem Tem realizou o negócio com Mário, dizendo que o Pellegrino iria ser sócio dele com apenas uma pequena parte, o que não era verdade.

Efetuada a compra no ano de 1929, o nome do cinema modificou-se para Cine República, como Empresa Pellegrino e Filhos, que agora era representada pelo Sr. Ângelo Pellegrino e por Mário e Januário Pellegrino, sendo, posteriormente, modificado para Empresa de Cinemas Paulista.

Diomar Ziviane, grande catanduvense que não está mais entre nós, disse uma vez que “(...) o Anísio Borges tocava pistão e seu cunhado Fausto tocava piano, acrescido de mais dois músicos que executavam a trilha sonora dos filmes; conforme a cena, era um tipo de música. Quando o filme era interessante, os músicos prestavam muita atenção no enredo; se ficavam muitos empolgados com esse filme, às vezes se esqueciam de entrar tocando em determinados momentos e logo eram advertidos por Mário Pellegrino, em uma ‘senha’ que só eles conheciam: ‘Joaquina’, pronunciada com ênfase e logo voltavam a se empenhar na música”.

Já o antigo Central Cinema fechou para a abertura de outro cinema, com o nome de Cine Central, que se localizava na Praça da Independência, quando ainda não havido sido construída o Santuário Nossa Senhora Aparecida.

Esse cinema acabou não tendo um grande resultado, pois a Associação dos Ferroviários de Catanduva, nas proximidades da rua Mato Grosso montou um cinema de 16mm, fazendo um preço camarada e roubava-lhe o movimento.

Os anos de ouro do cinema

Em 1945, uma empresa de Bauru denominada Pedutti decidiu construir na cidade outro cinema, dando origem ao Cine Bandeirantes, que foi inaugurado no dia 10 de abril de 1946, localizando-se na rua Alagoas Nº 324. O filme de estréia do cinema foi Prisioneiro do Castelo de Zenda, do diretor David Selznick.

A década de 1940 e 1950 foi considerada a época de ouro do cinema, segundo a Sra. Constância Leão, que iria entrar para a empresa em 1967, com a saída do ex-marido José Francisco Pellegrino, se dando a exibição de vários clássicos, como Os Dez Mandamentos, Ben Hur, Spartacus, entre outros.

Vale lembrar que além da exibição de filmes, os cinemas serviam também para a apresentação de peças de teatro, palestras com políticos, chegando até a apresentar shows, como Roberto Carlos, Os Incríveis e Moacir Franco.

Havia algumas sessões interessantes nos cinemas antigos, como a Sessão das Moças, onde estas pagavam apenas meia-entrada; a Sessão do Tronco, com um preço mais barato e a Sessão Pão Duro, que contava com um preço mais em conta ainda.

O Tropical

Nos anos de 1960, um grande cinema fazia sucesso na cidade de Catanduva: O Cine Tropical, que se localizava na rua Pará, onde hoje se encontra o Edifício João Alonso Garcia.

Este cinema foi fruto da sociedade entre as famílias Cremonini, Ramos e Rogério, apresentando na época uma arquitetura moderníssima, com aproximadamente 700 poltronas, cabines de projeção com dois projetores Triunfo, saguão excelente e câmara de som acústico atrás dela.

Este cinema exibiu filmes marcantes em sua época, como por exemplo, Alien – o 8º Passageiro e Tubarão.

O declínio

No final dos anos 70, os cinemas em Catanduva sofreram uma época de crise, ora por consequência da televisão, ora pelas novas normas da INC – Instituto Nacional de Cinema – que passou a obrigar os cinemas a exibirem filmes nacionais com a mesma porcentagem dos filmes estrangeiros, o que na época era ruim, pois a maioria dos filmes nacionais era de baixa qualidade e medíocres.

Os dois últimos cinemas extintos em Catanduva foram o Cine República e o Cine Bandeirantes, que estava sob administração do grupo MMC Cinemas, com escritório sede na cidade de São José do Rio Preto. Atualmente, temos apenas as salas que funcionam no Garden Shopping Catanduva, de propriedade do grupo Lumière.

Fonte de Pesquisa:

- Acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino

Fotos:

Foto interna do Cine Teatro República em 26 de março de 1946, mostrando que o local servia para as mais diversas apresentações, neste caso, da Orquestra Sinfônica de Catanduva

Foto antiga da cidade, datada do ano de 1925, flagrando o primeiro quarteirão da rua Brasil, bem próximo à Estação Ferroviária. O Central Cinema corresponde ao primeiro prédio do lado direito da foto

Foto de destaque do magnífico edifício do Cine República, que anteriormente levava o nome de Cine Teatro São Domingos, mas com a aquisição deste cinema por Mário Pellegrino, teve seu nome mudado no ano de 1929

Um dos grandes cinemas famosos de nossa cidade foi o Cine Tropical, que se localizava na rua Pará, onde hoje encontra-se o Edifício João Alonso Garcia. Inaugurado nos anos de 1960, trazia tudo o que era mais moderno na época, exibindo filmes que até hoje são considerados clássicos, como Tubarão e Alien – o 8º passageiro

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.