Não só os diamantes
Recentemente assisti na TV a uma premiação do tipo “melhores do ano” da música brasileira. O prêmio para o maior sucesso da temporada foi para uma música do gênero sertanejo: “Escrito nas estrelas”. Quase caí do sofá! Esta canção concorreu ao “Festival dos Festivais” da Rede Globo em 1985 e venceu na voz de Tetê Espíndola. A composição é do seu marido, Arnaldo Black e a letra de Carlos Renno. Tetê possuía uma das mais belas e exóticas vozes do Brasil, caracterizada por uma grande extensão vocal e um raro timbre de voz, situado em um registro muito agudo. E agora, quase 40 anos depois, volta à cena por causa da regravação do seu maior sucesso.
Este fenômeno não é novo. Se analisarmos a lista do ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), as músicas brasileiras mais regravadas de todos os tempos tocam pouco atualmente. Fazem mais sucesso no exterior. Das 20 mais gravadas, doze são da Bossa Nova. A líder é “Garota de Ipanema” (1962), de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Os dois possuem mais cinco músicas dentre as 20 primeiras. Os sambas mais gravados são “Aquarela do Brasil” (1939), de Ary Barroso e “As rosas não falam” (1974), de Cartola. O baião mais gravado é “Asa Branca” (1947), de Humberto Teixeira e Luís Gonzaga e o xote é “Eu só quero um xodó” (1960), de Dominguinhos e Anastácia.
Continua a lista com as sertanejas mais gravadas: “O menino da porteira” (1955), de Teddy Vieira e Luís Raimundo seguida por “Tocando em frente” (1990), de Almir Sater e Renato Teixeira. Completa o gênero a canção “Romaria” (1977) de Renato Teixeira. Inacreditável! Quase sonolento. Não tem absolutamente nada a ver com o gênero do jeito que é tocado atualmente, com muito barulho e estridência. A música gospel mais gravada é “Está tudo bem” (2021), de Jessé Aguiar. Encerra a lista a música indefinida, um pouco de samba, MPB e soul music: “Mas que nada” (1966), de Jorge Ben Jor.
Tem muito mais: “Vamos fugir” (1984), escrita por Gilberto Gil e gravada pelo Skank em 2004. “É preciso saber viver” (1970), de Roberto e Erasmo, gravada pelos Titãs em 1998. “Amor, meu grande amor” (1979), de Ângela Rô Rô, gravada pelo Barão Vermelho em 1996. “As dores do mundo” (1975), de Hyldon, gravada por Jota Quest em 1996. Hyldon, também fez “Na rua, na chuva, na fazenda” (1974), gravado pelo Kid Abelha em 1996. “Eva” (1983), do Rádio Taxi, gravado por Ivete Sangalo em 1997, quando ainda fazia parte da Banda Eva. A música “Índia” (1928), dos paraguaios Flores, Guerrero e Fortuna, foi alçada ao sucesso pela dupla Cascatinha e Inhana em 1952 e gravada por Roberto Carlos (2005) e Gal Costa (1973).
A lista é interminável. Impossível colocar tudo aqui. Incluí apenas algumas das regravações que gosto. Mas, o mais importante de tudo: o que é bom, fica para sempre.
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