Música triste

 

Não sou o maior fã. Nem o maior especialista. Mas frequentemente quando toca uma música sertaneja, os ouvintes levam o punho cerrado à testa e gritam: “lá vem sofrência”. Este ritmo musical carrega a fama de possuir muitas músicas tristes. Pensando bem, não é uma exclusividade deste segmento. Darei exemplos de vários ritmos musicais. Peço perdão pelo pecado, mas nem sempre citarei o autor para caber tudo aqui. 

Na MPB tem tanta música que fica difícil escolher. Citaria 'Devolva-me' (1966), cantada por Leno e Lilian; 'Sonhos' (1977) do Peninha, 'Sangrando' (1980) do Gonzaguinha; 'O Ébrio' (1946) com Vicente Celestino; 'Só Louco' (1955) com Dorival Caymmi. Não me atrevo a falar da Maysa, porque aí daria um livro. 

Na música clássica você encontra várias peças tristes. Tem os 21 'Noturnos' de Chopin compostos entre 1827 e 1846 ou o 'Réquiem' (missa fúnebre) de Mozart (1791).  Das óperas, cito a de Georges Bizet, 'Carmen' (1875) que termina com a morte da protagonista. 

A palavra “fado” significa algo como “decreto do destino”. É um ritmo português de caráter lamentoso. Para não me alongar: 'Nem às paredes confesso' (1953) e o meu preferido, 'Estranha forma de vida' (1985), sempre na voz da imortal Amália Rodrigues. 

A música pop é bem representada por 'Yesterday' (1965) de Paul McCartney e 'Candle in the wind' (1962 e 1997), música feita por ocasião da morte de Marilyn Monroe e que foi requentada por Elton John para homenagear a princesa Diana no seu funeral. 

O bolero é um ritmo que nasceu em Cuba, mas se popularizou no México. Cito 'Perfídia' (1939) com Alberto Dominguez; 'El Reloj' (1956) e 'La Barca' (1959), ambas de Roberto Cantoral e 'Besame Mucho' (1940) que já foi gravada por João Gilberto, Frank Sinatra e até os Beatles. Ainda no México encontramos os tradicionais Mariachis, que apesar de ser um ritmo normalmente alegre, traz também a música 'Solamente una vez' (1957). 

Não gosto da expressão “tudo pode piorar”. Mas quem ouve um tango não consegue pensar em qualquer outra coisa. 'Por una cabeza' (1935) de Carlos Gardel fala de um viciado em jogo que compara seu vício pelas apostas em cavalos com sua atração por mulheres. Ficou popularizada pelo filme 'Perfume de mulher' (1992) mas aparece na trilha sonora de mais 13 filmes. Em 'Vermelho 27' (1956) de Herivelto Martins, Nélson Gonçalves conta a história de um miserável que antes era rico e depois perdeu tudo na roleta de um cassino. 

Nem o samba escapa. Citarei apenas um que possui uma das frases mais melancólicas que eu conheço. Em 'A flor e o espinho', Nélson Cavaquinho canta “Tire seu sorriso do caminho, que eu quero passar com minha dor”. Essa música, é um lamento só. Quando falarem que o sertanejo é apenas sofrência, não tem como atirar a primeira pedra!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.