Música requentada

Às vezes me surpreendo quando algum cantor grava uma música 'das antigas' e ela estoura nas paradas de sucesso. Mais surpreendente ainda é a cara das pessoas quando descobrem que é regravação. 

Este é um hábito antigo do meio artístico. Acontece no cinema com os remakes, no teatro com novas montagens de peças clássicas, artistas plásticos que adotam estilos já consagrados. E na música, onde é muito mais comum.

O curioso é que não existe uma fórmula do sucesso. São várias as situações. Às vezes fez sucesso no passado e na regravação o sucesso se repete. Muitas vezes, não faz tanto sucesso com seu autor e se notabiliza na voz de outro cantor. Aparece quando se faz um trabalho de garimpagem nas antigas canções. 

Antes, falarei das músicas brasileiras mais gravadas. A campeã é 'Aquarela do Brasil' (1939) de Ary Barroso com 404 versões. Citando algumas das estrangeiras, Frank Sinatra, Paul Anka, Ray Conniff e Plácido Domingo. A seguir vem o clássico 'Carinhoso' (1924) de Pixinguinha com 403 versões. Depois vem 'Garota de Ipanema' (1962) de Vinicius de Moraes e Tom Jobim com 292 vezes e gravações de Sinatra, Ella Fitzgerald, Nat King Cole, Stevie Wonder, Madonna e Amy Winehouse. Tem ainda 'Feelings' de Morris Albert e Asa Branca de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. 

Citarei os casos mais curiosos. A música 'A Lua e eu' (1976), de Cassiano, foi regravada com uma batida diferente pelo grupo de pagode Pixote. O cantor Hyldon teve 'As dores do mundo' (1975) gravada pelo Jota Quest e 'Na rua, na chuva e na fazenda' (1974) gravada pelo Kid Abelha. 

A música 'Você não me ensinou a te esquecer' (1978) de Fernando Mendes foi regravada por Chrystian e Ralf, Bruno e Marrone e Caetano Veloso, quando chegou a ser indicada para concorrer ao Grammy Latino. 

Gal Costa é campeã de garimpar músicas antigas, algumas já esquecidas. Já gravou 'Índia' (1955) imortalizada nas vozes de Cascatinha e Inhana, 'Trem das Onze' (1964) de Adoniram Barbosa, 'Só Louco' (1955) de Caymmi, 'Alguém me disse' (1960) de Jair Amorim e Evaldo Gouveia e mais de uma dezena de outras regravações de clássicos. Sou suspeito para falar. Considero-a a maior voz feminina da música brasileira. 

A cantora Baby Consuelo do Brasil fez sucesso com 'Brasil Pandeiro' (1940) de Assis Valente que foi rejeitada por Carmem Miranda. 

No plano internacional, cito o maior sucesso da cantora Whitney Houston que foi a regravação de 'I Will Always Love You' (1974) de Dolly Parton. E finalizo com a maior de todas as músicas, 'My Way' (1967) do cantor francês Claude François, cujo nome original é 'Comme d´habitude'. Foi imortalizada por Frank Sinatra e também gravada por Elvis Presley, Gipsy Kings e centenas de outros cantores. A lista é interminável. Nem falei dos clássicos da música caipira. Isso fica para outro dia. 

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.