Museu Histórico e Pedagógico 'Gov. Pedro de Toledo' (I)

A partir da década de 1950, o Estado de São Paulo passou a criar, através de Decretos, uma série de museus históricos e pedagógicos, que vão sendo criados até a década de 1970, ficando sob orientação do Serviço de Museus Históricos, órgão pertencente à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que foram instalados em diversas cidades do interior paulista.

Esses museus, no ano de 1968, foram transferidos para a Secretaria de Estado da Cultura, passando à guarda e administração do Departamento de Museus e Arquivos (DEMA-SEC), e trinta anos mais tarde, a tutela desses museus, até então sob responsabilidade do Estado, foi transferida às respectivas cidades por meio da municipalização, coordenada pelo DEMA-SEC.

Na época das criações, essa estratégia, denominada “Implantação dos museus históricos e pedagógicos do Estado de São Paulo”, permitiu ao poder estadual afirmar-se no campo da cultura e da educação de modo hegemônico, relegando ao município a cessão do imóvel, o deslocamento de professores da rede pública para a direção dos museus, e o auxílio na coleta e no armazenamento do acervo.

Nessa perspectiva, o governo estadual pôde priorizar e preservar um determinado ponto de vista sobre a história do estado de São Paulo, além de possibilitar outras áreas, como, por exemplo, a própria história das cidades.

A criação dos museus

No ano de 1956, Sólon Borges dos Reis, então Diretor Geral do Departamento de Educação da Secretaria de Estado dos Negócios da Educação, propôs ao secretário Vicente de Paula Lima a criação dos primeiros museus históricos e pedagógicos, que eram também conhecidos com a sigla MHP.

Neste ano, foram criados quatros museus históricos e pedagógicos, na seguinte ordem: MHP “Prudente de Moraes”, em Piracicaba; MHP “Campos Salles”, em Campinas; MHP “Rodrigues Alves”, em Guaratinguetá; e MHP “Washington Luís”, em Batatais. Inicialmente, a intenção era se criar centros de memória e pesquisa acerca da vida dos quatro presidentes republicanos oriundos do Estado de São Paulo.

No ano seguinte, Borges dos Reis afastou-se da Secretaria de Educação e convidou Vinício Stein Campos para assumir a direção do Serviço de Museus Históricos, onde, nesse mesmo ano, Stein redigiu o regulamento dos museus e propôs a criação de mais cinco deles: MHP “Cesário Motta”, em Capivari; MHP “Andradas”, em Santos; MHP “D. Pedro I e D. Leopoldina”, em Pindamonhangaba; MHP “Brigadeiro Tobias Aguiar”, em Sorocaba; e MHP “das Monções”, em Porto Feliz.

Em 1958, por iniciativa particular de Borges dos Reis, é aprovado novo decreto para a instalação do MHP “Visconde de Taunay e Affonso de Taunay”, em Casa Branca, e no mesmo ano, por meio de novo decreto, Stein cria dezenove museus novos e classifica o conjunto total formado por vinte e seis unidades, divididos em três granes períodos históricos distintos: Colonial, Monárquico e Republicano.

De 1960 a 1973 foram criados mais cinqüenta e um museus, que, segundo Stein, passam a configurar uma rede de museus, concentrados, sobretudo, na porção ocidental do Estado, como mostrava um mapa publicado pelo Serviço de Museus Históricos na época. Em 1973, a rede contava com 79 unidades de museus históricos e pedagógicos.

Nomes dos museus

Desde o início da criação dos primeiros MHP, ficou estabelecido para que cada museu criado fosse indicado o nome de um patrono a ser rememorado.

Em sua maioria, esses patronos eram personagens importantes na história de fundação da cidade, ou tiveram destaque na política estadual ou do país. Vale lembrar que no Estado de São Paulo, a prática de homenagear vultos históricos por meio da nomeação de edifícios públicos é prática antiga, anterior à criação dos MHP.

Outro ponto importante a considerar é a expressiva produção de biografias sobre os patronos, e de estudos sobre o históricos da origem das cidades onde estão instalados os MHP, publicados na Revista do IHGSP, entre os anos de 1984 a 1994, com cerca de 1.561 artigos.

Identidades

Os quatros primeiros MHP foram designados à memória dos quatro primeiros presidentes republicanos civis e paulistas da Primeira República (1890-1930). Esses primeiros museus tinham, basicamente, dois grandes objetivos: preservar a memória dos presidentes paulistas e cultuar o período republicano.

Isso foi alcançado, em parte, quando em 1956, Sólon Borges dos Reis, criou esses primeiros MHP: não somente procurava afirmar a participação do Estado de São Paulo no imaginário republicano, sobretudo no da oligarquia paulista, bem como buscava reforçar a identidade do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, como guardião e leal depositário desta memória.

Catanduva

Dentro desta perspectiva estadual da criação de museus históricos e pedagógicos, Catanduva também foi contemplada com a criação do Museu Histórico e Pedagógico “Governador Pedro de Toledo”, o que mostra, no título, já atender aos ideais da política paulista de utilizar nomes de patronos que tiveram representação no Estado de São Paulo.

O museu foi criado pelo Decreto Estadual Nº 51.782, de 07 de maio de 1969, e funcionava no pavimento superior da Sociedade Ítalo-Brasileira, na rua Alagoas Nº 32.

Na coluna da semana que vem, contarei sobre a existência desse museu histórico e pedagógico aqui em Catanduva.

Fontes:

 - Anais do Museu Paulista, volume 16, Nº 2, de julho a dezembro de 2008.

 

Foto: De 1960 a 1973 foram criados mais 51 museus, que passaram a configurar uma rede de museus, concentrados, sobretudo, na porção ocidental do estado, como é possível observar nesse mapa publicado pelo Serviço de Museus Históricos

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.