Muito barulho

Não tolero barulho. Fico pensando se é por causa da rabugice inerente à idade ou se porque o mundo simplesmente é mesmo barulhento. Tenho dúvidas sobre qual dos 2 aspectos pesa mais.

O trânsito é a coisa mais barulhenta que existe. Buzinas fazem parte do hábito de muitas pessoas. No semáforo usam-na para avisar que passarão o sinal vermelho ou para repreender alguém que parou no sinal amarelo. Se você está dirigindo no limite da velocidade e tem alguém com mais pressa do que você, é inevitável que buzinarão para você sair da frente. Tem ainda os escapamentos estridentes e as arrancadas. E as buzinas dos apressadinhos para reclamar que o carro da frente demorou 2 ou 3 segundos para andar quando abre o sinal.

Pior são os veículos que trafegam tocando música em altos volumes. Sabemos do componente histérico do hábito, da carência afetiva e da necessidade patológica de chamar atenção. O repertório é ruim e de gosto duvidoso (gosto se discute sim mas isto fica para outro artigo). Continuaria não gostando mesmo que fossem boas músicas. Imagino que seria inusitado alguém circular tocando um sambinha ou uma sinfonia.

Há os barulhos da construção. É dureza ouvir as marteladas, a britadeira, o esmeril. No entanto, classifico-os como conta a pagar pelo progresso. Encaro como efeitos colaterais temporários. Se não for fora de hora, paciência.

Do mesmo jeito tem o barulho de aviões. Aeroportos geralmente são construídos na periferia. Não adianta. Em pouco tempo o progresso sempre alcança tudo o que você colocar à margem da cidade. E aí os moradores reclamam...

As feiras livres já foram mais barulhentas. É gente trabalhando também. Mas quem mora ao redor não gosta muito. Pelo menos os que eu conheço. Como vou de madrugada às feiras, não percebo o burburinho existente durante a manhã.

Tem as igrejas. Tem os bares com som ao vivo. Caminhões que circulam de madrugada. A buzina do trem no trecho urbano. Animais domésticos, em especial o cachorro. Revoada de andorinhas (com o bombardeio de excrementos). Rojões. Praça de alimentação de algum shopping na hora do almoço de domingo. Uma churrascaria no mesmo horário. Um bar cheio. Alguém falando num celular ao seu lado. Alguém falando num celular dentro de um avião.

Para escrever meus artigos, frequentemente apelo para os dicionários. Procurei a palavra “barulho”. Tem muitos significados. Destaco alguns: som, ruído, zoada, algazarra, escarcéu, balbúrdia, estardalhaço, motim, rebelião, ostentação, exibição, espalhafato, alarde, pavoneio, confusão, bagunça, desordem, tumulto, desarranjo.

Eu me divirto no cinema, gosto de estudar de madrugada, cultuo bibliotecas, ganho a vida em hospitais e salas de aula. Sinceramente? Barulho para mim é a soma de tudo o que está no parágrafo anterior. Acho que a rabugice venceu!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.