Mercantilismo educacional

Seria cômica se não fosse totalmente trágica a forma como grande parte da população entende a educação, cada qual, ungido pela divina sapiência, acha que pode dar pitacos de como a educação deve ser, muito embora nunca tenham sequer pisado em uma sala de aula, nem tampouco ministrado algo. O que me soa ainda mais aterrador é o fato de que a educação ainda hoje pode ser vista como há 50 anos atrás, ou seja, entendida como transmissão do conhecimento e o aluno, visto como esponja, deve pacientemente absorver, de forma que essa absorção deva acontecer num cenário onde a criança está imóvel em sua cadeira, em silêncio, passiva, aguardando os ditames do mestre. 

Mesmo com inúmeros estudiosos que trouxeram à luz um cenário onde o processo de ensino-aprendizagem é ativo, ainda sim, há aqueles que regem segundo o tradicionalismo cerceador, partindo da coação e do respeito unilateral. Aqueles que estão fora creem que a passividade em sala de aula é algo profícuo e que engendra novos saberes, mas estão profundamente equivocados.  

Temos também as bandeiras construtivistas que sequer compreenderam o processo de interação entre sujeito - conhecimento, acreditam que é só deixar a criança livre que ela, milagrosamente, surgirá com novos saberes... um processo totalmente ambientalista e tão equivocado quanto o primeiro. 

Freire em “A Pedagogia da Autonomia” traz uma frase muito interessante, que é mais ou menos assim... Ao mesmo momento que o professor ensina, ele aprende e ao mesmo tempo que o aluno aprende, ele ensina. Esse processo dialético é o que realmente fomenta as estruturas mentais e possibilitam o avanço no conhecimento. 

Mas há também outro movimento, tão nocivo quanto o tradicionalismo, que é o mercantilismo educacional, é crescente a quantidade de empresas sem “fins lucrativos” que emergem para parcerias com a educação... aliás, Virgínia Fontes traz uma definição, que sem outro adjetivo melhor, penso apenas em MAGNÍFICA, que tais empresas tem “fins engordativos”, pois através de parcerias público-privadas vão recebendo montantes e mais montantes de dinheiro público que deveria estar diretamente sendo investido na escola, mas enfim...

Concomitantemente a esse pensamento capitalista desenfreado, podemos olhar o cenário em que o professor recebe seus materiais definidos por alguém, a forma com que ele deve trabalhar que é definida por alguém, a metodologia, enfim... o professor acaba sendo um reprodutor, tal o enfadonho tecnicismo. O professor, não precisando pensar, apesar executar, não desenvolve competências para promover a troca de conhecimentos com seus alunos, nem tampouco está aberto a novos conhecimentos, uma vez que a cartilha a ser seguida não possibilita esse processo dialético. 

Esses montantes de dinheiro poderiam ser investidos na capacitação dos professores, de forma que os mesmos pudessem estar aptos a elaborarem propostas pedagógicas, metodologias e etc. Todavia, ainda há um longo caminho a percorrer, esclarecer muitos doutos senhores que se acham capazes de opinar sobre a educação e afastar os cunhos politiqueiros da educação, direcionando o dinheiro que se põe nos bolsos privados, realmente no setor público. Como diria István Mészáros, uma educação para além do capital... e para muito mais além dos interesses particulares. 

Nossas políticas públicas carecem de uma ingerência tal, que desde sempre a educação se viu caótica, em todos os momentos históricos do Brasil... Aí me vem à mente a grandiosa frase de Darcy Ribeiro: “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”.

Autor

Eduardo Benetti
Professor Recreacionista em Catanduva