Mente sã

Um dos mais conhecidos provérbios latinos é o adágio “mente sã em corpo são”, extraído de uma das sátiras de Juvenal. Quem nunca o ouviu da boca de médicos, educadores físicos, psicólogos, nutricionistas, líderes espirituais, etc, ou mesmo a assistiu em novelas ou leu em reportagens, artigos e livros? E esta é uma frase tão popular justamente porque trata de uma verdade óbvia ao pensamento e à sensorialidade, de um fato arraigado e bem compreendido pelo senso comum: saúde integral, holística, une a psiquê à biologia. Vale citar um excerto de Hipócrates, o Pai da Medicina: “O homem saudável é aquele que possui um estado mental e físico em perfeito equilíbrio.”

Hoje, vamos papear um pouquinho sobre a primeira parte da frase, condicionante da segunda: Mente Sã. Qualquer pesquisa minimamente séria vai reportar que uma mentalidade sadia pode ser definida (e assim define a OMS) como “um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade.” Em suma, é ter uma vida mental suficientemente unificada, coesa, capaz de dialogar e interagir produtivamente consigo e com o mundo de maneira proativa; um estado construtivo -- não [auto]destrutivo.

Apesar destas definições serem importantes, o homem comum, com razão, anseia é por outra resposta, mais prática: Como ter uma mente sã? A sabedoria acumulada das civilizações orienta em dois sentidos, que são duas leis existenciais, duas máximas imperativas: (1) tenha Fé e (2) tenha Amor.

Fé variará desde definições mais teológicas (fé enquanto dom metafísico de crer) à definições mais científicas (fé como positividade cerebralmente estimulada). No entanto, há um mesmo núcleo comum às vertentes em geral: ter fé é acreditar em um significado próprio e coletivo (você e o mundo) que transcende os problemas próprios e coletivos, um significado que aponta para um horizonte que deve ser buscado intensa e sinceramente, um horizonte de realização vocacional pelo qual as felicidades pessoal e comunitária devem ser construídas em simbiose. À esta simbiose de bem-querer mútuo, gerada pelo significado esperançoso, podemos chamar Amor. Quanto ao Amor, seja qual for e de quem for a opinião, ele sempre desaguará nas palavras do Cristo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

Então, temos que o Amor concatenado à Fé produz equilíbrio entre individualidade e comunidade, aquele equilíbrio preconizado pela OMS, o equilíbrio no qual o ser humano de bem consigo consegue se dar bem com os demais fazendo o bem.

De todo o dito, surgem outras questões: “tá, mas e na prática?”, “como pratico a fé?”, “como ter fé?”, “ok, mas como amo?”, “então, amor é só ser legal com o outro sem me desleixar comigo mesmo?”, “nesta conta, onde entram a religião e a psicologia?”, “fé e amor conduzem à verdade?”. Para todas estas questões, verdadeiras iscas no anzol da sabedoria, permanece o antigo chamado à reflexão, consubstanciado nestas palavras do velho René Descartes: “É propriamente ter os olhos fechados, sem jamais tentar abri-los, viver sem filosofar.”

Vá filosofar e, pouco a pouco, silenciosamente, o Verbo te dará Fé e Amor para ter a mente sã. Com os olhos abertos (os olhos abertos que, metáfora da mentalidade, nas palavras do Cristo são “a luz do corpo”), você já poderá ter o Corpo São...

Até semana que vem.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor