Medo do Lobo Mau

Tenho acompanhado a desconfiança de muitas pessoas em relação ao uso da inteligência artificial (IA) e o medo da máquina substituir o ser humano. No entanto, as eras com descobertas científicas e grandes revoluções econômicas são períodos difíceis para quem as vivem. Toda mudança, principalmente quando não entendida pelas pessoas, leva a uma sensação de insegurança e incerteza quanto ao futuro.

Embora haja um certo temor, é crucial reconhecer que novas formas de emprego surgirão, e a sociedade se adaptará gradualmente a elas. Assim como em revoluções tecnológicas passadas, as dificuldades iniciais serão superadas com o tempo. A própria internet é um exemplo. Assisti há poucos dias um vídeo de 1995, onde Bill Gates, o proprietário da Microsoft, era ridicularizado pelo entrevistador David Letterman, ao tentar explicar o que era a internet. O tempo mostrou quem tinha razão.

O ser humano é ágil para desvirtuar o uso de qualquer ferramenta. Santos Dumont, quando inventou o avião, não imaginava que colocariam um saco de bombas e lá de cima as soltariam nas cabeças das pessoas. Facas são utensílios de cozinha. Apesar disso, milhares de brasileiros morrem todos os anos, vítimas de armas brancas. As redes sociais, que deveriam ser um fator para estreitar laços entre as pessoas, serviu para juntar malucos e divulgação de notícias falsas e visões distorcidas da realidade (quase 95% do que circula nos grupos). Com a IA não é diferente. Já estão usando-a para forjar fotografias, filmes e discursos. Existe o risco de armas autônomas (drones militares) não considerar riscos políticos e humanitários. Há também, com base do que tem na internet, a possibilidade de perpetuar preconceitos e discriminação.

A IA está sendo usada em larga escala no cotidiano das pessoas há décadas. Cito o reconhecimento facial, assistentes de voz, automatização industrial, algoritmos em mídias sociais e aprendizado de máquinas. A IA tem condições de resolver problemas complexos e agilizar tarefas repetitivas. Tem sido usada em praticamente todos os segmentos, principalmente tecnologia, finanças, saúde, educação e transporte. Hoje, nos tribunais superiores brasileiros, muitas sentenças são proferidas com base em programas de IA. Que outra alternativa teremos diante da excessiva quantidade de ações e recursos existentes no Brasil?

O uso da IA revolucionou a maneira como as empresas operam. Aprimorou a eficiência e facilitou a inovação, liberando-nos para atividades mais criativas e estratégicas. A adoção da IA traz desafios éticos. Discute-se o controle desta tecnologia. É inútil. Há anos tentam controlar a internet. Até hoje não deu muito certo. Informar-se é a chave para aproveitar os benefícios e mitigar os impactos negativos. IA não é o futuro. Já é uma realidade. Faz tempo!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.