Mas você jura?
Vestida de vermelho, caminhava entre as pessoas numa loucura veloz. Tinha pressa. E havia tantas pessoas naquele caminho. Queria ser a primeira a chegar naquele encontro, marcado às pressas com velhos amigos e em que ela seria a grande atração. Afinal, via-se engraçada, falante, provocante – e provocadora.
O excesso de confiança e a alegria, regados a álcool naquele encontro de amigos, disfarçava dúvidas que carregava consigo e que custava a esclarecer. Quem sou eu? O que quero para mim? Quem quero ao meu lado? Em quem confiar? Eram tantas pessoas naquele caminho. Tantas perguntas ainda sem resposta.
Em ‘O Pequeno Príncipe’, obra de Antoine de Saint-Exupéry (1943), entre outras importantes frases da narrativa, tem-se que “quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro” e que “num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo”. Confiar em alguém, contudo, não é nada simples.
Isso porque surgem dúvidas, muitas dúvidas. Sobretudo depois que se está envolvido. “A gente só conhece bem as coisas que cativou”, disse a raposa na história de Saint-Exupéry. E decepções passadas tendem a interferir. “É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou”, garante o Pequeno Príncipe.
E aquela menina de vermelho, envolta em perguntas sem respostas, conhecia essas e outras reflexões do pequeno habitante do planeta B612. Mas isso pouco ajudava a esclarecer tantos questionamentos. Promessas e afirmações feitas eram respondidas com novas perguntas. “Mas você jura?” costumava questionar.
Ainda assim, mesmo com a resposta afirmativa, duvidava. Perguntava as coisas ao mundo e este, vez ou outra, respondia. Odiava ficar sem resposta. Tinha fome, pressa. Perguntava por que aquele vazio, vez ou outra, ressurgia. Descobriu, com o passar dos dias, que não teria resposta para tudo. Teria que confiar. Arriscar.
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