Mário Zan: o rei da sanfona

Um dos instrumentos de grande popularidade em nosso país, principalmente nas músicas caipira e de raiz, é a sanfona, conhecida também como acordeão.

De origem alemã, esse instrumento é composto por um fole, um diapasão e duas caixas harmônicas de madeira.

O primeiro modelo do que mais tarde viria a ser um acordeão apareceu na China, em 2.700 antes de Cristo. Denominado Cheng, o instrumento era uma espécie de órgão portátil, tocado pelo sopro da boca, que continha um recipiente de ar, um canudo de sopro e alguns tubos de bambu.

Muitos séculos mais tarde, o instrumento chegou à Rússia, onde sofreu algumas modificações. Da Rússia, se estendeu para toda a Europa, e a Alemanha, tomada de grande interesse, realizou certas adaptações e o transformou no modelo que conhecemos hoje.

O Brasil, por apresentar uma cultura muito diversa, contém vários acordeonistas de grande fama, como por exemplo, Chico Chagas, Dominguinhos, Hermeto Paschoal, Luiz Gonzaga, Robertinho do Acordeon, Mangabinha, entre outros.

E dentre todos os grandes nomes de acordeonistas, um também teve grande prestígio em nosso país: o saudoso Mário Zan, antigo morador de nossa região.

Mário Zan

Mário Giovanni Zandomeneghi nasceu em Veneza, na Itália, no dia 09 de outubro de 1920 e veio para o Brasil com quatro anos de idade, se estabelecendo na cidade vizinha de Santa Adélia.

Esse é um aspecto da História do Brasil muito particular, pois nesse período houve um grande crescimento da entrada de imigrantes no país, por consequência do fim da escravidão, ocorrida em 1888, e pelo grande desenvolvimento do café, que necessitava de uma grande quantidade de mão-de-obra.

E foi exatamente o que aconteceu com a família de Mário Zan: vieram da Itália, para trabalharem nas lavouras de café da Fazenda Santa Sofia, em Santa Adélia, onde desde cedo Mário já ajudava seus pais na lida com o campo.

E era muito comum, principalmente no meio rural, a realização de várias festas típicas caipiras, como festas juninas, por exemplo, com ritmos de arrasta-pé, polca, onde o acordeão estava presente em todas as festividades. O instrumento foi chamando a atenção do pequeno Mário, que com seis anos de idade chegou a ganhar um acordeão de seu pai, aprendendo sozinho os primeiros acordes.

Seu primeiro instrutor de acordeão foi um morador da cidade de Santa Adélia que se chamava Angelim Lanza.

E o menino Mário aprendia rápido e tocava muito bem, chegando a ganhar o apelido em Santa Adélia de “garoto da sanfona”, sendo convidado para tocar na maioria das festas da cidade.

São Paulo

Com a idade de 14 anos, Mário deixou a cidade de Santa Adélia e se mudou para a capital paulista. Chegando em São Paulo, aprimorou cada vez mais seus estudos e continuou fazendo suas apresentações, se tornando muito conhecido na “terra da garoa”.

Lá, presenciou um novo mundo de possibilidades, no qual também começou a se apresentar em rádios e a construir carreira solo.

Além de tocar de forma magnífica, Mário também escreveu em toda a sua vida inúmeras canções. Aproximadamente 40 músicas do sanfoneiro foram gravadas por grandes nomes da música brasileira, como por exemplo, Roberto Carlos, Sérgio Reis e Almir Sater.

Uma de suas composições mais conhecida é a famosa Chalana, escrita no ano de 1940 e que ganhou popularidade nos anos de 1990 por estar dentro da trilha sonora da novela Pantanal, produzida pela extinta TV Manchete.

Outras músicas acabaram sendo traduzidas para diversos países, como por exemplo, a canção Nova Flor, que acabou sendo modificada para o título Os homens não devem chorar, ganhando interpretações nos Estados Unidos, Portugal, França, Alemanha, China e Japão.

Mário também foi o responsável pela criação da música Quarto Centenário, com participação de J. M. Alves, em 1954. Esta canção foi feita em homenagem aos 450 anos da cidade de São Paulo, ficando conhecida como o hino da capital paulista, rendendo à Mário Zan o título de cidadão paulista e acabou recebendo o símbolo da chave de São Paulo.

As origens

Depois que mudou para a capital paulista, Mário não mais voltou a residir em Santa Adélia. Porém, esteve na cidade em 1982 e 1993, data que realizou um baile de rua.

Um fato interessante de se perceber em Mário é a questão da afirmação de suas raízes. Enquanto muitos artistas tentam esconder que vieram de cidades pequenas e interioranas, Mário sentia prazer e orgulho de dizer que viveu a maior parte de sua infância na cidade de Santa Adélia.

Mário Zan faleceu no dia 09 de novembro de 2009, por consequência de uma parada cardíaca.

Um fato curioso de sua morte foi que durante toda a sua vida ele foi apaixonado pela história de vida da Marquesa de Santos, antiga amante de D. Pedro I, que depois de constituir família,  doou grande parte de seus bens, escravos e o terreno onde foi construído  o Cemitério da Consolação, em São Paulo.

O túmulo da marquesa está inserido dentro de tal cemitério e durante uma época se encontrava abandonado. Mário então se dedicou na manutenção e no cuidado do túmulo da marquesa e deixou claro que o seu desejo era ser enterrado perto do túmulo dela. E assim foi: seu corpo jaz em frente do túmulo da Marquesa de Santos no Cemitério da Consolação, em São Paulo.

Fonte de Pesquisa:

 - Livro “Santa Adélia além de seus noventa anos”, de Patrícia Silva Ferreira Santos.

 

Foto: Uma das primeiras rádios que Mário tocou na cidade de São Paulo foi a Rádio Bandeirantes, ficando lá conhecido como “o sanfoneiro que brinca com a sanfona”

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.