Marco que clama por superação
O Dia da Consciência Negra, celebrado hoje, transcende a mera comemoração; é um marco fundamental para a reflexão profunda sobre a história afro-brasileira e a luta contínua por equidade racial no país. É um dia dedicado a celebrar a resistência, a cultura, a beleza e a contribuição inestimável do povo negro na formação social, econômica e cultural do Brasil. A importância de dedicar um dia para este debate reside justamente na ferida social ainda aberta: o racismo estrutural. Ao promover eventos como feiras, desfiles e apresentações culturais, como no Festival Negritudes realizado ontem ou na programação de hoje do Sesc, promove-se a visibilidade, o pertencimento e o combate ao padrão hegemônico que historicamente excluiu corpos e saberes negros. É através da cultura, da música e da celebração que se toca o cerne da sociedade, conscientizando e engajando a população no enfrentamento diário ao preconceito. Contudo, o ponto crucial desta reflexão reside no paradoxo temporal: por que ainda precisamos de um dia dedicado à consciência negra? A resposta é um espelho da desigualdade persistente. A necessidade de debater a consciência negra anualmente é o sintoma de que a igualdade plena ainda não foi alcançada. Enquanto houver disparidades gritantes no acesso à saúde, educação, emprego e representatividade — enquanto a beleza negra precisar ser afirmada em passarelas contra um padrão imposto —, o debate anual não é um luxo, mas uma urgência. O objetivo final, o ápice do movimento negro e da luta por cidadania plena, é justamente tornar este dia obsoleto. Busca-se pelo momento em que a consciência sobre a negritude será intrínseca à consciência social de todos os cidadãos, e a igualdade será a norma, não a exceção. Nesse dia, a celebração da herança negra não precisará ser uma ferramenta de enfrentamento ao racismo, mas sim uma celebração natural da diversidade que compõe a nação. Até lá, a voz, a cultura e a cobrança de ações efetivas são imprescindíveis para pavimentar o caminho a trilharmos.
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