Marcelo – um ser humano extraordinário

Vou me dirigir a você, amigo Marcelo Gimenes. Primeiro, gostaria de lhe dizer que, diferente dos outros artigos que você era um dos primeiros a ler, este é o único que eu não gostaria de escrever e esteja certo de que o faço na primeira pessoa, com a voz contida e embargada, os dedos que o digitam trêmulos e inseguros, os olhos cheios de lágrimas e coração em frangalhos. Confesso muita dificuldade em escrever reverenciando a sua memória e seus feitos, porque, as palavras, por mais significativas e abrangentes que sejam, estão longe de expressar a verdadeira importância do seu legado e dos seus feitos nessa sua fugaz passagem entre nós. De todas as tarefas a mim confiadas por você, essa que as circunstâncias me incumbiram, confessadamente é a mais árdua e difícil, porquanto a comoção toma lugar da razão e as palavras insistem em se esconder num labirinto como se fosse um caleidoscópio ou um quebra cabeça. Como escrevi no recente artigo dedicado a outro amigo, também da AEC, reverenciar a memória de amigos é sempre uma tarefa difícil. A partida é sempre um momento de reflexão, comoção, solidariedade e de profunda tristeza, principalmente na civilização cristã, mas também pode ser uma oportunidade de render homenagens. Ninguém está preparado para fazer a viagem derradeira, ainda mais com pouco mais de cinquenta anos e os que ficam, menos preparados ainda. Não pude estar presente para lhe dar o último adeus, por isso estou tentando fazê-lo com palavras que, repito, insistem em se esconder. A AEC que você idealizou e fundou junto com alguns amigos há dez anos, dentre os quais me incluo, está na fase final de realizar o seu sonho, que é o de reformar a quarta ala do hospital “Emílio Carlos”. E, aqui vai um registro – diferente do que você nunca quis e até mesmo me desautorizou – a ala terá sim o seu nome, tal como a CTI do hospital “Mahatma Gandhi” que está sendo inaugurada neste mês. São dois singelos reconhecimentos, talvez o mínimo que possa ser feito! Você seguramente fará muita falta como já está fazendo, principalmente na sua família, nas suas empresas, na AEC e nos inúmeros projetos sociais e campanhas que liderava e fazia acontecer, mas como é sabido, o tempo de Deus, por mais difícil que é entender, é muito diferente do tempo da terra. Se alguém me pedir frases que poderiam definir a sua trajetória, embora saiba que estão muito aquém de expressar a sua verdadeira importância para o mundo, eu as escreveria assim: – “Um ser de luz extraordinariamente humano”; “um ser humano diferenciado e extraordinário”; “um cara do bem, onde o “nós” sempre veio antes do “eu”; “fez de uma tela em branco, uma aquarela de realizações extraordinárias”; “tinha como principio de vida, fazer o melhor para a comunidade e às pessoas – um cara focado no bem.” – Com certeza estava faltando a presença de um cara idealizador, empreendedor, realizador e altruísta no céu, por isso Deus que o havia emprestado temporariamente (sem ninguém saber), o requisitou para retornar ao seu plano. Lembrando o que escrevi quando da despedida de um amigo em comum: – O amigo se foi, mas nunca terá ido, porque deixou, para os que tiveram o privilégio de compartilhar da sua amizade e do seu convívio, como maior patrimônio o verdadeiro sentido do vocábulo legado, porque legado não é o que se deixa para as pessoas, mas o que se deixa nas pessoas e, ele soube como ninguém, deixar consignado e perpetuado essa diferença. Descanse em paz amigo. Sem a sua presença física, ficará apenas a saudade que, doravante, passará a ser a presença da sua ausência.

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.