Manifestação popular de 1919

A estrada de ferro chegou em nossa localidade no ano de 1910, trazendo grande progresso para o pequeno povoado que ainda não tinha se elevado à categoria de município.

Com o passar dos anos e o desenvolvimento de nosso povo, Catanduva foi elevada à categoria de município, com sua instalação realizada no dia 14 de abril de 1918, em um clube local, conhecido como Clube Sete de Setembro, que se localizava na esquina das ruas Paraíba e Brasil, onde por muito tempo funcionou a Casa Facci.

Um ano depois da instalação do município, ou seja, 1919, a ferrovia São Paulo Norte não conseguia atender todas as necessidades que a cidade enfrentava. Os cereais e outros produtos ficavam expostos nas plataformas, aguardando pelos embarques, já que não haviam vagões suficientes. Por consequencia disso, alguns produtos até chegavam a apodrecer por falta do transporte.

Juntam-se a esses problemas estruturais a paralisação dos funcionários daquela estação, que se encontravam descontentes com a forma que vinham sendo tratados, o que prejudicava ainda mais o escoamento de mercadorias.

A revolta de 1919

Cansados de enfrentar todos esses problemas sem fazer nada, populares catanduvenses, liderados pelo Dr. Aristides Procópio, antigo dentista de nossa cidade, se juntaram com duas bandas de música locais, e, no dia 11 de outubro de 1919, por volta das 10h da manhã, desceram a rua Brasil rumo à estação, prédio que hoje abriga a Estação Cultura. Em determinado momento da passeata, chegaram até a cantar o hino francês, a Marselhesa, como forma de mostrar sua indignação.

Assim que chegaram ao referido prédio, grandes discursos foram proferidos por manifestantes, que não ficaram somente em ato pacífico.

Utilizando bananas de dinamite e querosene, os manifestantes colocaram fogo na estação, destruindo grande parte dela, além de outros veículos que estavam no pátio.

A população também queria danificar parte da linha férrea, utilizando, para isso, picaretas e machados.

Chegando ao local, Dr. Juvenal de Oliveira Romão, delegado de polícia na época, deu voz de prisão para aqueles que estavam com as ferramentas na mão, mas a população tomou voz e disse que todos eram responsáveis por aquilo, assumindo uma responsabilidade coletiva.

O delegado deu ciência do fato pelo telégrafo à cidade de Taquaritinga, que também comunicou o município de Araraquara, momento em que o povo começou a se retirar.

Nessa hora, onde tudo parecia voltar ao normal, novos manifestantes inflamados chegaram ao local, entre eles o farmacêutico Deocleciano Pegado, e novamente suscitou a população, que retornaram ao local e acabaram destruindo até o aparelho de telégrafo utilizado pelo delegado. O incêndio chegou a queimar a ponte da rua Brasil, que na época era toda feita de madeira.

O Dr. Juvenal abriu inquérito policial, denunciando cerca de quarenta catanduvenses.

A defesa da população de Catanduva ficou sob responsabilidade do Dr. Renato Bueno Netto e a acusação, por parte da companhia férrea, a cargo de Rui Barbosa, grande advogado com fama nacional.

O promotor público, Dr. Adalberto da Silva Exel, opinou pela impronúncia dos apontados e o Juiz de Direito, Dr. Raimundo Cândido de Mergulhão Lobo, confirmou o parecer do promotor e determinou o arquivamento do processo.

Depois de toda a manifestação, o Governo do Estado encampou a ferrovia, que era uma das reivindicações da população, e esta passou a ter o nome de Estrada de Ferro Araraquarense, voltando a funcionar no dia 1º de novembro de 1919.

Fonte:

- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino

Fotos:

Estação ferroviária de Catanduva, nos anos de 1920, que já tinha sido reformada após o incêndio que a danificou, por consequencia da manifestação em 1919

Em toda a sua história, o prédio da estação ferroviária de Catanduva passou por inúmeras reformas e modificações, até ficar da maneira que se encontra hoje, onde abriga a Estação Cultura

Prédio da estação ferroviária de Catanduva, no ano de 1955, que contava com um ponto de ônibus bem próximo, onde circulavam para as cidades vizinhas. Esse novo prédio tinha sido inaugurado em 05 de junho de 1948, e contou com a presença do governado do Estado, Dr. Adhemar de Barros

Foto tirada em 1910, época da abertura da linha da Estrada de Ferro. Na imagem, de terno branco, Sr. Francisco Nogueira, engenheiro da obra

 

Nos primeiros anos da República no Brasil, em 1904, a cidade do Rio de Janeiro foi tomada por uma manifestação popular que era contra a vacinação obrigatória contra a varíola. O movimento foi conhecido como a Revolta da Vacina, e trouxe choque entre a população e tropas do governo

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.