Mandrake, o Mágico: Celebrando 90 Anos de Magia nos Quadrinhos

Anterior ao Superman (1939), considerado o primeiro super-herói, Mandrake, o Mágico, foi um dos principais personagens desenhados em "estilo realista" nos quadrinhos que tinha superpoderes. Pelo menos, se não considerarmos a superforça do marinheiro Popeye (1929), mas este era um personagem cômico.  

Mandrake, o Mágico, nasceu como uma tira de jornal, escrita por Lee Falk antes de criar outro herói clássico, O Fantasma. A publicação de Mandrake começou em 11 de junho de 1934. Phil Davis logo assumiu como ilustrador da tira, enquanto Falk continuou a escrever ao longo dos anos. Davis concebeu o mágico usando o próprio Falk como modelo, um homem magro, com um típico bigodinho dos anos 30.

Lee Falk, nascido Leon Harrison Gross, foi um escritor, diretor de teatro e produtor americano, mas ficou mesmo mais conhecido como o criador das tiras de Mandrake  Fantasma. No auge de sua popularidade, essas tiras atraíram mais de 100 milhões de leitores todos os dias.

Mandrake é um mágico cujo trabalho é baseado em uma técnica hipnótica extremamente rápida e poderosa. Nas primeiras histórias, entretanto, ele era um mágico de verdade, isto é, conseguia transformar pessoas em animais, por exemplo. Usava uma típica indumentária de mágico de teatro, com smoking, cartola, capa e varinha de condão. Com o tempo, seus poderes mágicos e sobrenaturais foram explicados como simples ilusionismo hipnótico. Como observado nas legendas, quando Mandrake ”gesticula hipnoticamente”, submete as pessoas às mais incríveis ilusões, que somente eles e os leitores podiam ver. Mandrake usava essa técnica contra uma variedade de vilões, incluindo gângsteres, cientistas loucos, seres extraterrestres e personagens vindos de outras dimensões.

Mandrake vive em Xanadu, uma mansão de alta tecnologia no topo de uma montanha no estado de Nova York. As características de Xanadu incluem TV de circuito fechado, uma estrada seccional que se divide ao meio e portões de ferro verticais.

Não se sabe muito sobre o passado de Mandrake, exceto que estudou magia em algum lugar no Oriente (uma ideia copiada depois pelo Dr. Estranho, da Marvel), mas em suas aventuras ele era acompanhado pela princesa Narda (que era princesa mesmo de um pequeno reino europeu) e que viria a ser sua namorada e noiva, e pelo gigante negro Lothar, uma espécie de rei africano com um traje bem estereotipado, mas que trabalhava como uma espécie de ajudante e segurança do mágico. Com os novos tempos, Lothar se tornou apenas um amigo, companheiro de aventuras, não um “nativo” servil.  

Phil Davis trabalhou na tira até sua morte em 1964, quando Falk recrutou o artista Fred Fredericks. Com a morte de Falk em 1999, Fredericks se tornou tanto escritor quanto artista da tira e páginas dominicais coloridas. As tiras foram publicadas em todo o mundo durante décadas, seja na forma original em jornais, ou adaptadas para revistas e álbuns. Como a produção dos jornais não era suficiente, novas aventuras passaram a ser desenhadas em vários países, inclusive no Brasil, produzidas pelo brasileiro Walmir Amaral, na editora RGE (Globo). A revista vendia tanto que durou até o número 325. As tira de Mandrake nos jornais terminaram em 2013, quando Fred Fredericks se aposentou.

Em 1939, Mandrake apareceu pela primeira vez em live action num seriado de cinema onde ele e Lothar lutaram contra um vilão mascarado. O personagem fez aparições animadas especiais na TV e foi um dos protagonistas dos Defensores da Terra (1986), exibido na TV brasileira, ao lado de outros heróis da época, como Fantasma e Flash Gordon.

Mandrake era o personagem preferido do cineasta italiano Frederico Fellini, que tentou fazer um longa com Marcelo Mastroianni no papel principal, mas o projeto rolou.

O nome Mandrake se tornou sinônimo de magia. Ao longo dos anos, Mandrake, o Mágico, tem sido republicado, principalmente na sua fase áurea com Phil Davis. Hoje um tanto esquecido, esse personagem que forneceu inspiração a todos os super-heróis que vieram após ele, celebra seu 90º aniversário.

Autor

Sid Castro
É escritor e colunista de O Regional.