Machado e a Flip
A Festa Literária Internacional de Paraty foi encerrada com uma miríade de eventos, palestras e boas discussões sobre a literatura e a escrita como fator de (r)existência, como dizem. João do Rio foi o homenageado e espera-se que haja um resgate de sua obra, semelhante à que ocorreu com a de Lima Barreto. Uma coletânea de crônicas dele, relançada por ocasião da Flip, já figura na lista dos livros mais vendidos.
Também outras pérolas lá surgiram ou aconteceram. Machado de Assis - sempre ele - não poderia ficar de fora. O Bruxo do Cosme Velho volta a ser redescoberto. Na Flip, o romancista colombiano Juan Cárdenas disse que Machado de Assis foi precursor de Jorge Luis Borges em relação a estilos; eu creio que isso pode estar relacionado ao que se chama realismo fantástico.
A obra de Machado de Assis pode ser lida gratuitamente na internet, já de domínio público há um bom tempo. Mas há um blog que trata de contos anotados, trazendo como exemplo um inusitado texto de Machado, quase prenunciando as fúteis, vazias e perversas redes sociais. "O segredo do Bonzo", de 1882, pode ser lido aqui: https://machadodeassisonline.substack.com/p/contos-anotados-1-o-segredo-do-bonzo. No site podem-se ler alguns comentários que enriquecem o conto.
Recentemente, nosso escritor maior fez sucesso nas redes sociais (um paradoxo). Creio que é momento de resgatá-lo também nas leituras em sala de aula e nas listas de livros para vestibulares, aproveitando ainda que na semana passada foi o Dia do Escritor. Ninguém escreve se não lê.
Lembrando ainda que somos todos escritores, alguns com livros publicados, mas todos com livros vividos.
Adilson Roberto Gonçalves
Pesquisador na Unesp Rio Claro
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