Lutar, fugir ou paralisar

Você já se perguntou por que algumas pessoas enfrentam desafios de forma agressiva, enquanto outras evitam confrontos a todo custo e algumas simplesmente se sentem paralisadas diante das adversidades? Estes são exemplos dos diferentes estilos de enfrentamento que desenvolvemos ao longo da vida, muitas vezes enraizados na infância.

Na infância, nossas necessidades emocionais são cruciais para a nossa sobrevivência. Ao contrário de outros animais, os seres humanos nascem com sistemas nervosos imaturos, por isso são dependentes de cuidados para sobreviver. Mas quando essas necessidades emocionais não são atendidas, nosso cérebro entra em modo de ameaça, desencadeando três respostas básicas: lutar, fugir ou paralisar.

Esses estilos de enfrentamento, conhecidos como hipercompensação, evitação e resignação, são adaptativos na infância. Eles nos ajudam a sobreviver às adversidades emocionais. No entanto, à medida que crescemos, nem sempre são funcionais.

Imagine uma criança que enfrentou a frieza dos pais na infância. Ela pode tornar-se fria também para sobreviver à falta de atenção de qualidade parental. Esta postura diante da privação funciona como um escudo na infância, mas, quando adulta, esta pessoa pode evitar se envolver emocionalmente com os outros, e este fato pode causar sofrimento emocional, pois ela traz do passado um comportamento que já não serve mais.

As crianças também podem combinar os três estilos de enfrentamento dependendo da situação. Por exemplo, uma criança que reage à frieza dos pais com resignação pode, quando adulta, continuar “escolhendo” inconscientemente, parceiros que mantém a sua privação. De outra forma, também pode se tornar evitativa, na intenção de não passar de novo pelo que viveu em tenra infância. Outra possibilidade é que se torne superexigente com seus pares, tentando compensar a privação do passado.

A mesma criança que evita no esquema de privação emocional, pode hipercompensar, por exemplo, no esquema de fracasso. Ou seja, mesmo sentindo que, a qualquer momento, poderá falhar, ela se torna a melhor aluna da escola para poder ser olhada e reconhecida como importante.

As respostas de enfrentamento são os comportamentos específicos que surgem dos estilos de enfrentamento. Elas compõem a maneira como lidamos com situações adversas. Essas respostas, em grande parte, são reflexos de nossa necessidade básica de sobrevivência.

Infelizmente, algumas respostas de enfrentamento podem nos manter no sofrimento. Nossa racionalidade muitas vezes não consegue avaliar adequadamente esses comportamentos, devido à força das emoções que os impulsionam. Essas respostas podem se tornar transtornos de personalidade, enraizados em nossos primeiros anos de vida.

A boa notícia é que sempre é possível mudar e crescer, mesmo quando confrontamos as sombras do passado, vivendo uma vida mais plena e consciente.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp