Luiz Gonzaga em Catanduva

Semana passada, finalizamos o mês de junho, que traz em seus dias as lindas, coloridas e vibrantes festas juninas. Danças de todas as cores, comidas típicas, festejos populares e religiosos compõem um dos meses mais festivos do ano. E dentre essas festas, danças e comemorações, uma das trilhas sonoras mais tocadas é a de Luiz Gonzaga, também conhecido como o Rei do Baião.

Luiz Gonzaga do Nascimento, nascido em Exu – Pernambuco, em 13 de dezembro de 1912, faz parte de um grupo maravilhoso de compositores e cantores brasileiros. Conhecido como o Rei do Baião, ele foi uma das mais completas, importantes e inventivas figuras da música popular brasileira. Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou as festas juninas e os forrós pé-de-serra, bem como o relato sobre a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, ao resto do país, numa época em que a maioria desconhecia o baião, o xote e o xaxado. Admirado por músicos como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Raul Seixas, Caetano Veloso, o genial instrumentista e sofisticado criador de melodias e harmonias ganhou notoriedade com as antológicas canções, como Baião (1946), Asa Branca (1947), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Qui Nem Jiló (1949) e Baião de Dois (1950).

Carreira

Antes de ser o Rei do Baião, conheceu Domingos Ambrósio, também soldado e conhecido na região pela sua habilidade como acordeonista. A partir daí começou a se interessar pela área musical. Em 1939, deu baixa do exército na cidade do Rio de Janeiro e decidiu se dedicar à música. Na então capital do Brasil, começou por tocar nas áreas de prostituição da cidade. No início da carreira, apenas solava acordeão em choros, sambas, foxtrotes e outros gêneros da época. Seu repertório era composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em programas de calouros. Apresentava-se com o típico figurino do músico profissional: paletó e gravata. A mudança veio em 1941, no programa de Ary Barroso, onde foi aplaudido executando Vira e Mexe, com sabor regional, de sua autoria. O sucesso lhe valeu um contrato com a gravadora RCA Victor, pela qual lançou mais de 50 músicas instrumentais. Vira e Mexe foi a primeira música que gravou em disco. Depois disso, veio sua primeira contratação, pela Rádio Nacional. Lá conheceu o acordeonista gaúcho Pedro Raimundo, que usava trajes típicos da sua região. Daí surgiu a ideia de apresentar-se vestido de vaqueiro, figurino que o consagrou como artista. Em 11 de abril de 1945, gravou sua primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor: a mazurca Dança Mariquinha em parceria com Saulo Augusto Silveira Oliveira. Entre 1951 e 1952, o Colírio Moura Brasil celebrou um contrato de puro teor promocional com o cantor, então o maior nome de cultura de massa no Brasil, custando-lhe a excursão por todo o país, fato este registrado por Gilberto Gil.

Últimos anos

Luiz Gonzaga sofreu de osteoporose por anos. Em 02 de agosto de 1989, morreu vítima de parada cardiorrespiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Foi velado em Juazeiro do Norte (a contragosto de Gonzaguinha, que pediu que o corpo fosse levado o mais rápido possível para Exu, irritando várias pessoas que iriam ao velório e tornando Gonzaguinha uma pessoa mal vista em Juazeiro do Norte) e, posteriormente, sepultado em seu município natal. Em 2012, Luiz Gonzaga foi tema do carnaval da GRES Unidos da Tijuca, no Rio de Janeiro, com o enredo O Dia em Que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão, fazendo com que a escola ganhasse o carnaval carioca daquele ano.

Ana Krepp, da Revista da Cultura escreveu: "O Rei do Baião pode ser também considerado o primeiro rei do pop no Brasil. Pop, aqui, empregado em seu sentido original, de popular. De 1946 a 1955 foi o artista que mais vendeu discos no Brasil, somando quase 200 gravados e mais de 80 milhões de cópias vendidas. “Comparo Gonzagão a Michael Jackson. Ele desenhava as próprias roupas e inventava os passos que fazia no palco com os músicos”, ilustra o cineasta Breno Silveira, diretor de Gonzaga — De pai para filho. Em 2012, o filme de Breno Silveira, Gonzaga - De Pai pra Filho foi lançado, narrando a relação conturbada de Luiz com o filho Gonzaguinha.

Gonzaga – De pai pra filho

Gonzaga – De Pai pra Filho é um filme lançado em comemoração ao centenário do nascimento do Rei do Baião, dirigido por Breno Silveira, escrito por Patricia Andrade e estrelado por Chambinho do Acordeon e Júlio Andrade. Inspirado na biografia dos cantores Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, pai e filho respectivamente, o longa foi lançado nos circuitos nacionais em 26 de outubro de 2012. O filme se inicia quando Luiz Gonzaga decide mudar seu destino e sai de casa jovem para a cidade grande para apagar uma tristeza amorosa. Ao chegar, conhece uma mulher por quem se apaixona, a Odaleia. Após o nascimento do filho e complicações de saúde da esposa, ele decide voltar para a estrada para garantir os estudos e um futuro melhor para o herdeiro. Ele tem um amigo no Rio de Janeiro e com ele deixa o pequeno e sai pelo Brasil afora.

Só não imaginava que essa distância entre eles faria crescer uma complicada relação, potencializada pelas personalidades fortes de ambos.

Catanduva

Em Catanduva Luiz Gonzaga esteve quatro vezes. A primeira vez foi em 07 de setembro de 1950, dia da comemoração da Independência do Brasil, onde fez um show dançante acompanhado da Tupi Orquestra, no Clube de Tênis Catanduva. O evento foi organizado pelo GERB – Grêmio Estudantino Rio Branco e pela Rádio Difusora de Catanduva.

No ano seguinte, em 27 de dezembro de 1951, Luiz Gonzaga retornou à Catanduva, agora se apresentando no Cine Bandeirantes, onde estava acompanhado por Catamilho, conhecido como o Rei da Zumba e Zéquinha do triângulo, o Rei do Frevo. Retornou no Cine Bandeirantes em 21 de setembro de 1955, com sua Embaixada do Baião, patrocínio das Alpargatas Roda, o calçado das multidões.

Sua última visita à Catanduva foi no dia 16 de setembro de 1977, no Circuito Comerciário, se apresentando no Ginásio do SESC, patrocinado pelo Centro Social e Desportivo João Di Pietro e pela Prefeitura Municipal de Catanduva.

Fonte de Pesquisa:

- Acervo do Museu Centro Cultural e Histórico Padre Albino.

Fotos:

Estátua de bronze de Luiz Gonzaga que, ao lado da escultura de Jackson do Pandeiro, está em frente ao Açude Velho de Campina Grande

Admirado por músicos como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Raul Seixas, Caetano Veloso, Luiz Gonzaga ganhou notoriedade com as antológicas canções, como Baião (1946), Asa Branca (1947), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Qui Nem Jiló (1949) e Baião de Dois (1950)

Luiz Gonzaga em sua última visita à cidade de Catanduva, em 16 de setembro de 1977. Nesta foto, o Rei do Baião juntamente com o professor Nelson Lopes Martins, que naquela época exercia o cargo de gerente do SESC Catanduva

A primeira vez que Luiz Gonzaga esteve em Catanduva foi em 07 de setembro de 1950, dia da comemoração da Independência do Brasil, onde fez um show dançante acompanhado da Tupi Orquestra, no Clube de Tênis Catanduva. Nesta foto, acompanhado de Maurílio Vieira

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.