Lembranças de Hoje
Quando criança, marcou-me bastante uma crônica de um famoso escritor brasileiro. Não me recordo o título, mas lembro o autor: Mário Prata.
O texto falava sobre dois vizinhos, um cachorro e um coelho. Cada família tinha seu bichinho de estimação e ambos se davam muito bem, eram verdadeiros amigos. O cão passou a vida protegendo o coelho da casa vizinha.
Alguns anos depois, o coelho morre e, num ato de carinho, seus donos fazem um pequeno enterro no quintal. O cão, desesperado com o sumiço do amigo, passa dias farejando todos os cantos até conseguir encontrá-lo.
Desesperado e triste, abocanha o coelhinho com a boca e corre para mostrar a seus donos a desgraça que ele descobrira. No mesmo instante, o homem espanca o pobre cão, deixando-o com milhares de hematomas e envolto em sangue.
Nem por um momento passou em sua mente que o cãozinho tentava mostrar ao mundo que seu melhor amigo havia morrido. Tentava mostrar que sofria.
O homem, racional, mostrava-se insensível à sua causa, deixava às claras que é um ser que julga sem quaisquer motivos, que pune sem nem mesmo ter certeza.
As pessoas se atacam, trocam calúnias e acusações. Denúncias, corrupção, suborno, sonegação.
Hoje, é fácil se sentir perdido. Afinal, em que ou quem podemos acreditar? Qual o melhor caminho? Quem está falando a verdade? De que maneira podemos avaliar todos os fatos?
O que não se pode aceitar é que se julgue sem provas. Ninguém pode ser tratado como o cão, punido por um crime que jamais cometera, crucificado por ser sincero e mostrar aos outros aquilo que o fez sofrer, que lhe causou indignação.
Falar, para nós humanos, é fácil. Difícil é fazer-se homem, ser racional, superior.
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